Pessoa
Lembro-me quando ganhei minha primeira bicicleta. A alegria era indizível, inefável, do ponto de vista de uma criança que agora possuía um souvenir para os dias de sol... E chuvosos, dependendo do animo e entendimento da mãe, quanto à compreensão acerca do que é viver.
Lembro-me também quando recebi meu primeiro salário. A sensação de conquista foi inexplicável. Na prática, nem precisava mesmo de explicação, era só partir pro abraço e me sentir um bom consumidor, conforme minha sociedade me induzira a ser.
Ainda me lembro do meu primeiro veículo automotor. O prazer já alcançara, nesta ocasião, patamares mais exuberantes. Do ponto de vista de um jovem rapaz. Ainda que as sensações infantis sejam muito mais primárias e encantadoras esse patamar era de outro nível. De todas as minhas lembranças das posses, essas me foram, talvez, as mais relevantes.
Hoje, pra fazer sentido a síntese do que aqui vai escrito, precisei citar as coisas antes, até porque a conquista da pessoa, a que me referirei foi, posterior e contudo superior. Sem lembranças antigas, pois é tao recente quanto absurda sua participação em minha memória, a pessoa me enche os olhos, o coração e a alma de uma forma que as coisas perdem a semântica.
Pessoa e não coisa. Coisa até nos alegra o coração
Mas pessoa, principalmente aquela, de fato,
acertada
É alegria e preenchimento que transcende a compreensão...
...Coisa é coisa, pessoa é amada...
Coisa, não. Pessoa! E essa em especial me transborda
Toda expressão afim de trazer à luz compreensão fracassa
Toda ameaça à nossa relação em confusão discorda...
...Pessoa fica, coisa passa...