Das seis ou mais que isso

Desde as últimas poucas linhas do ano passado, não houve justificativa forte o bastante que me fizesse acreditar que eu diria algo que alguém já não tivesse dito, como aquelas velhas frases de superação de algo etc. Duas décadas me fizeram pensar que eu já tinha recebido toda a desesperança que alguém pode receber em vida e ter visto tudo que ela oferecia, apesar de saber que poucos verão de quase tudo. No mais, tive que me manter firme para seguir o caminho a passos firmes fazendo trilhas com comprimidos, como quando João e Maria jogavam migalhas para não se perderem - e eu estivesse lá jogando e comendo tudo para me manter de pé, mas sabia que estaria no final tão perdida quanto eles. Porém, eu soube que ser lúcido é não finalizar a estrada por contra própria, e sim deixar que alguma das infinitas possibilidades de derrubar qualquer um que respire te derrube no final, amanhã ou no momento seguinte. Mas por vontade exclusiva anula a única faísca de expectativa que se tem de continuar a luta para conseguir aquilo que faça sentido. E, se não der certo e você estiver de pé ainda dirão simplesmente que não era pra ser, deve-se começar outra coisa do zero,e assim será. Em meio a tudo, e insistindo novamente na sobrevivência acho que eu deveria ter parado e escrito alguma coisa, sobre o cotidiano, acaso ou caos que todos nós somos submetidos a aguentar porque estamos vivos. E, há uma beleza nisso que de vez em quando aparece, e alguém fala sobre mesmo crente que o seu ponto de vista é diferente e que possivelmente salvará alguém, sem nem talvez salvar a si mesmo. Contudo, eu soube que as palavras só encontrarão os mais desgraçados no cansaço das 6h da tarde, e o dia terá valido a pena por isso, ou não, mas escrevê-las já é o passo seguinte.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 20/03/2018
Reeditado em 01/08/2018
Código do texto: T6285974
Classificação de conteúdo: seguro