XXXII - O Rei e a Mochileira Tupiniquim

O leitor que é chegado em filmes antigos imediatamente fará a relação do titulo desta crônica com o filme americano O Rei e Eu (1956) estrelado por Deborah Kerr e Yul Brynner com direção do Walter Lang e cuja fonte de inspiração vem a ser o livro da autora Margaret Landon, Ana e o Rei do Sião... Porém, no caso da Mochileira Tupiniquim –embora ela também se chame Ana- o rei é outro. O país também é outro.

É o ano de 1989, finalzinho do verão europeu, e a Mochileira Tupiniquim chega a Munique, no sul da Alemanha, para hospedar-se na casa dos pais de uma sua colega de aula do curso de inglês na Inglaterra. Uma família encantadora que a acolheu com enorme carinho e entusiasmo por lhe mostrar todas as belezas da bela cidade da Baviera alemã. Com anfitriões tão dedicados, a Mochileira aproveitou ao máximo as visitas a galerias de arte, a museus, a casas de cerveja, a igrejas, prédios históricos em geral e a passeios pelos arredores da cidade...

Como não poderia deixar de ser, os anfitriões faceiros com a grandiosidade histórica dos castelos do antigo e legendário Rei da Baviera Ludwig II levaram a hóspede brasileira para conhecer dois deles. Logo ela que não era acostumada com castelos... nem os de fada! Muito menos de reis de verdade. E foi assim que com grande ansiedade a Mochileira Tupiniquim adentrou os jardins majestosos com lindas fontes e chafarizes, recantos acolhedores e o imponente castelo... Projetado para ser uma réplica de Versailles em Paris, Herrenchiemsee é um dos três castelos dos sonhos de Ludwig II.

O ambiente luxuoso com piso e escadarias de mármore nobre, inúmeros quartos, salões todos ricamente decorados com quadros de artistas renomados, peças de decoração de valor inestimável, cortinados finos, afrescos, detalhes folhados a ouro... Tudo de encher os olhos, a Mochileira nem acreditava no que via. Naquela época, com rolos de filme de 36 poses ela ficou com muito poucas fotos do local... teria que contar com sua memória e os livretos para turistas.

E esse foi apenas o primeiro. Cinco dias depois, os amigos a levaram ao Linderhof Schloss que fora concluído em 1879. Impossível resumir tanta exuberância concentrada numa só propriedade. Tudo lá era esplêndido, luxuoso, rico, um verdadeiro deslumbre da criatividade humana unida ao poder e às condições financeiras! A Mochileira Tupiniquim maravilhou-se com os lindos monumentos de enormes pavões, aves amadas pelo monarca. Romântica, apaixonou-se mais ainda pela Venus Grotto, uma gruta construída com um laguinho e um barco em forma de concha. Como o Ludwig II era fã ardorosíssimo do compositor Richard Wagner, há uma imensa pintura numa das paredes de uma cena de sua ópera Tannhäuser. Há quem diga que é tudo meio brega...

Para a Mochileira, era um fascínio só, uma beleza estonteante e inesquecível. O resultado de tanto encantamento é que a Mochileira Tupiniquim virou fã do Rei Ludwig II da Baviera na distante Alemanha e isso que ela ainda nem sabia naquela época da existência de um seu tatara-tataravô alemão Christian Adolph Pitthan que imigrara para o Brasil em 1827! Também ficou faltando visitar o terceiro castelo dos sonhos do Ludwig II, Neuschvanstein Schloss, o mais famoso. Ah, pois então... não é que quase dois séculos depois, o castelo do sonhos do desafortunado rei que morreu afogado no lago Starnberger, veio a tornar-se mais um sonho da Mochileira Tupiniquim??!