Intelectual em tempos de crise

A maior parte dos intelectuais brasileiros apoiou Lula quando de sua candidatura. Aliás, essa grande parte já era petista ou apoiava o PT. Nas eleições de 2002, a maioria da intelectualidade endossou a subida ao poder maior da nação do ex-operário Luis Inácio Lula da Silva. Havia uma intolerância ao capitalismo propugnado pelos governos anteriores. Considerava-se o conformismo daqueles que escolhiam a direita e o desrespeito às classes menos favorecidas. Intelectuais que adotaram essa posição ficaram perdidos e sem palavras diante da crise instalada. Daí a dificuldade de se manifestar.

No Brasil de hoje os intelectuais que entoavam canções sobre transparência, ética, serviço ao povo, acusando os crimes efetivos ou supostos do neoliberalismo, silenciaram. O PT, nas suas bases militantes, acusa a direção partidária de todas as mazelas, escondendo de si mesmo o fato de que os dirigentes não agiriam com afoiteza, se tivessem recebido críticas contundentes e fiscalização cotidiana. Esta seria a função dos intelectuais do partido.

Ocorre que o intelecto, a lógica e o raciocínio tornaram-se misológicos no PT dos últimos tempos. O analfabetismo transformou-se em virtude. Os erros gramaticais e a subserviência teórica indicavam o bom intelectual, porque o aproximavam do povo que elegera o PT e seus dirigentes.

Talvez se petistas seguissem Spinoza conseguissem encontrar suas verdades, que ficaram largadas ao longo do caminho. O mestre Spinoza falava a todas as épocas quando disse: “Serve-te de tua inteligência, segue-a, confia nela, aprende a empregá-la e a te deixar guiar por ela. Eis aí o único ditador que faz progredir o mundo. É o processo criador, que se opõe ao caos que nos enche de angústia. Nesse processo criador está a força luminosa, a ilustração e também a paz para o exercício de seu pensamento”.

O sistema de Spinoza é uma das redes mais finas de filigranas, com as quais o homem consegue captar o mundo e entre as suas infinitas propriedades, ou atributos, figuram o pensamento e a extensão, de modo que não pode existir pensamento sem extensão nem extensão sem pensamento.

As idéias que se desdobram do sistema de Spinoza, a sua substância própria, o filósofo chamou de ÉTICA, que trata dos fatos morais, dos valores hierárquicos, da vida e da conduta moral.

Por outro lado, o tom com que Spinoza filosofava em torno de suas idéias tinha conotações espirituais e revelava claramente a importância que dava a este aspecto. Já não era só a lógica que o movia, ele seguia do seguinte modo: primeiro, considerava a natureza do homem e os acontecimentos essenciais do mundo dos instintos, tais como estes se apresentam a um naturalista, depois deduzia daí todas as ocorrências peculiares à vida cotidiana dos incultos e confrontava essas ocorrências com as idéias diretoras que, segundo o seu critério, conduzem o homem, escravo dos próprios desejos, à superioridade do espírito puro, libertado de seus desejos menos honrosos.

Tal é o verdadeiro spinozismo que encaminha o homem para a liberdade, para a felicidade da renúncia aos desejos menores.

Claro que da transposição desse sistema de valores morais até o plano das simples representações humanas há um longo caminho a percorrer. Entretanto para os homens que aqui nos ocupam o espírito, as coisas não se deram por esse modo. Eles se inclinaram para o mais fácil, quer na vida política, quer no exercício do pensamento. Talvez se lessem Spinoza diminuíssem suas paixões e as tendências que os dominaram durante este tempo. Evidentemente o raciocinar, pensar e concluir sem medo opõem-se às paixões desabridas e faz reconhecer o caráter errôneo e falso das emoções e ações egoístas.

“Ainda que o caminho assinalado pareça muito difícil – diz Spinoza – na ÉTICA, pode, contudo, ser encontrado”.

Sylvia R Pellegrino
Enviado por Sylvia R Pellegrino em 24/10/2005
Código do texto: T62976