Vamos Ao Bar, Humberto?

—Mas eu não estou reclamando, Cristina, só estou amargurado, eu estou feliz — mentia — só não quero ir ao bar hoje.

Cristina espremia com força a xícara de café, enquanto olhava pela janela. "Se eu tivesse namorado Carlos, estava no bar agora" pensou.

Humberto ao ver que Cristina não fedia e nem cheirava vestiu-se de crueldade e balançou a mesa com força.

—Ta aí dentro ainda?

Cristina se levantou e arremessou com graça a xícara em Humberto que desviou num sobressalto.

— Eu fico aqui o tempo inteiro ouvindo você reclamar, seu maldito, finjo alegria no domingo pra almoçar com o diabo da sua família, minto orgasmos pra você não se sentir um fracassado e você não pode nem ir ao bar pra me ver dançar. — Ela disse, ríspida — Morra Humberto, pelo amor de Deus morra. Estou cansada das suas picuinhas. Morra.

Cristina saiu batendo a porta, sem arrependimento.

Sozinho, Humberto buscou um copo com água e um comprimido. Precisava admitir que estava envelhecendo e estava ficando ranzinza, mas prometeu não perdoar Cristina. Não era tão velho, afinal estava chegando ainda aos seus sessenta anos, mas o Alzheimer já havia lhe levado alguns prazeres, como tomar um cafezinho pela tarde, já que muitas vezes não se lembrava das horas. Pelo crepúsculo da noite Humberto sabia que precisava deitar e foi o que fez.

Pela manhã Cristina bateu na porta. Humberto abriu e ofereceu-lhe café. Cristina sentou-se.

— Vamos ao bar, Humberto?

Mas ele estava cansado.