AS FERAS MODERNAS

O ser humano é a criatura mais rara que existe. Vejam bem que somos uma mistura de seres pensantes e ao mesmo tempo temos características animais irracionais - então somos mamíferos que pensam. Somos inteligentes, somos selvagens e defendemos a nossa cria a qualquer custo se for preciso - uma complexidade de experiências que ao logo de centenas de anos chegou ao que compreendemos hoje. E a cidade é como uma selva urbana de pedra. É algo extraordinário como podemos agir e reagir aos acontecimentos de formas variadas. Pois cada um teve a sua criação, aprendeu a raciocinar sobre um linha de pensamento e daí também parte a sua forma de perceber e absorver o mundo. Uns mais pacientes, outros impulsivos, outros estáveis, alguns lentos por natureza e outros totalmente ansiosos. É bem verdade que com o correr do tempo podemos modificar nossas crenças, ora pois também não somos estáticos. Somos deveras mutáveis e aprendemos de diversas maneira uma lição, seja pela dor, seja pelo humor, seja pela sabedoria que cada um carrega perante às experiências ocorrentes e sociais.

Vale dizer que segundo o conhecimento público estamos há centenas e centenas de anos e cientificamente ou biblicamente temos origens que nos levam a crer que evoluímos de modo colossal. Houve épocas que vivíamos rodeados de bichos no paraíso do Éden. Ou ainda o mundo esteve rodeado de Dinossauros ou de feras selvagens. E há quem diga que por isso também permanecíamos escondidos nas cavernas para nos proteger. A comunicação entre os homens se tornou idioma; vestíamos pele de animais; já fomos quadrúpedes, depois andamos sobre duas pernas, eretos e chegamos ao primata homo sapiens. E mesmo com tamanha evolução e transformações, algo ainda é muito latente e acompanha sempre a humanidade ou podemos dizer a “desumanidade” – a violência. Ouvimos falar em noticiários diários que uma pessoa morre a cada 8 minutos no Brasil. Por ano, são quase 60 mil homicídios. E quais são as causas de assustadora atrocidade? É provável que evoluímos muito em muitos aspectos, contudo em outros somos ainda extremamente primitivos, temperamentais, perversos e porque não dizer cruéis. É clarividente que não podemos generalizar, mas isso está escancarado a todo momento. E de quem é a culpa dessa brutalidade estagnada e intolerante?

Estudos sobre o tema nos apontam uma relação entre competição e violência. Quando grupos rivais disputam mercados, têm acesso a armas de fogo. Segundo uma reportagem do jornal G1, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. A chance de um negro ser vítima de homicídio é 23,5% maior que a de pessoas de outras raças/cores. Em estados no Norte e Nordeste, o abismo é ainda mais profundo. Em Sergipe, por exemplo, a taxa de homicídios entre negros é de 73 por 100 mil habitantes, enquanto que a de brancos é de 13 por 100 mil. Segundo a mesma reportagem o Brasil é o quinto país em extensão territorial do mundo, mas tem mais homicídios que os quatro primeiros – Rússia, Canadá, China e Estados Unidos.

De acordo com o que constatamos, os números da violência são latentes e o que cada um de nós pode fazer é cuidar melhor do seu espaço. Uma sociedade organizada vale mais do que qualquer um de nós sozinho. O Brasil é rico em tantos aspectos naturais, em miscigenação, em arte e cultura. Quando o país cresce em educação, também cresce em igualdade social, cresce em economia. Se uma nação for voltada à sensibilidade e para a fraternidade, solidariedade e autorresponsabilidade, possivelmente grande parte das mazelas sociais poderão ser extirpadas da continuação de nossa história. Com a concepção de que temos que zelar um pelo outro com consciência, nossa percepção se dilata e poderemos desenvolver ideias e ações para erradicar o culto ao egocentrismo, ao se dar bem a todo custo. A ganancia traz o mal a si próprio e aos que estão a volta. Por isso é que se diz que paciência é a junção de paz + ciência. Não há paz inerte, não há conhecimento sem ação para o bem a mais de um. Para se ter paz e ciência é preciso nos desprendermos de nós mesmos e alcançar algo mais profundo, mais valoroso para cumprirmos o nosso papel como ser humano e como cidadão lúcido e que enxerga mais do que seu próprio umbigo. Como disse certa vez o poeta brasileiro Castro Alves, “nem cora o livro de ombrear co’ o sabre, nem cora o sabre de chamá-lo irmão”. Isso quer dizer que devemos saber usar a força, todavia uma força ativa com sabedoria e para o bem social.

Michael Stephan
Enviado por Michael Stephan em 22/04/2018
Código do texto: T6315881
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