O GRANDE AMOR DE MEUS PAIS

Hoje à noite, segunda-feira, minha irmã Vera ligou-me para dizer que encontrou por acaso, no resto das tralhas que recolheu do apartamento dos pais, agora à venda, uma coleção de blocos e cadernos que eram os “diários” da Mãe, alguns escritos antes do meu nascimento. Com certa surpresa e emoção, falou-me de passagens em que a Mãe extravasava sua felicidade de estar casada com meu pai, contava aventuras e belos momentos daquela vida a dois, plenamente realizada e feliz. Em seguida, a primeira gravidez, no caso a minha “encomenda”, em que se derramava em palavras de amor e expectativa e que o casal acreditava que seria um menino e que se chamaria José Pedro, muito amado. Não sei como exatamente tudo isto não me surpreendeu, pois sempre tive a sensação ou a “lembrança” de haver nascido num lar aquecido por muito carinho e proteção, mesmo que, depois, as coisas fossem mudando aos poucos, com o surgimento de outros irmãos, mais as dificuldades naturais da vida e da época, até o ponto de vir morar em Porto Alegre com os avós, aos 10 anos de idade, tendo a família permanecido em Encantado, até por volta de meus 15 anos. Se tenho por característica ser um tanto distante, individualista, o grande carinho e o amor que sinto e que sempre, do meu jeito, demonstrei a filhos e netos tem necessariamente de ter uma gênese igual. A gente só consegue dar aquilo que recebe. Por mais que tenha atravessado águas revoltas, dentro de mim guardo a herança do afeto que recebi e que passo da maneira que sei - mal ou bem, mas bastante verdadeira. Não fui criado num regime de beijos e abraços ou de palavras doces, mas devo tudo a meus pais e ponto final. Isto deve valer alguma coisa.