Também tive mãe.
 
           Por essas coisas da vida, que não se explicam, também tive uma mãe, não nasci de um pé de repolho e muito menos a cegonha me trouxe, era feriado internacional das cegonhas naquele dia.
           Nesta foto eu estava com dez anos, e  a Dna Cármen com trinta e três. Uma mãe guerreira, até no nome, conhecia tudo e mais um pouco. Era brava e carinhosa, dizia as coisas sem rodeio, marcando como ferro em brasa. Dois filhos , eu o mais novo.
            Nasci num 26 de dezembro,  quase que lhe estrago o natal , e naquele tempo a parteira fazia o serviço , e só em casos de complicações é que as mulheres iam para o hospital,  parto não era assunto de clínicas e médicos.
            Como havia se criado sozinha desde os nove anos, quando seus pais foram trabalhar,  arcou com as responsabilidades da casa, da limpeza à cozinha, de pé em uma cadeira.
            Tinha o "TOC" da limpeza, e era exigente nesse sentido, não podia ver sujeira e coisas desarrumadas. Aprendi muito com a minha mãe,  a determinação e a vontade de aprender.  Fora retirada da escola devido a guerra, quando estava no segundo ano, mas isso nunca a limitou na escrita ou nas contas. Ainda era das que molhavam a ponta do lápis na língua .
             Deixo neste dia , um pequeno "recuerdo" dessa espanhola "miura", que nunca aprendeu a falar o português direito,  apenas se virava o suficiente para viver por aqui.
             Acho que as coisas não terminam por aqui,  e um dia a reencontrarei . O seu nome "Cármen" vem do latim "Carmine", que é canção, não poderia ser mais significativo.

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 13/05/2018
Reeditado em 13/05/2018
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