Minha MÃE casou-se muito nova, meu pai não tinha um pingo de juízo ou seria mesmo, respeito e consideração. A deixava sozinha para ir para festas e bailes e ainda batia nela se ela reclamasse. Quando pequena vi minha mãe chorando por ter apanhado muitas vezes. Isto me marcou muito. Seu pai era um homem de posses e morava em outra cidade, mesmo assim vinha sempre trazer gêneros alimentícios para nós, como café, rapadura, gordura de porco, arroz e feijão, meu pai tinha um sogro muito bom e amoroso.
     Meu pai ficou morando na casa de seus pais, meus avós, quando estes, resolveram mudar para cidade, para que seus irmãos pudessem estudar. Deixou a casa para meu pai, uma casa linda, uma fazendinha na verdade, para meu pai cuidar e tirar da terra o necessário para viver e cuidar da casa grande. Uma coisa que meu pai soube muito bem é fazer filhos, se não tivesse morrido dois seria dez atualmente.
     Meu pai plantava alguma coisa como arroz, milho, feijão e minha mãe sempre tinha sua horta de verduras e legumes, mesmo assim já passamos muito fome. E assim, quando um dia, depois de ter apanhado e com um filho na barriga, minha mãe resolve voltar para casa de meus avós maternos, e deixa eu, uma irmã e um irmão com meu pai. Como meu avô deixou de trazer ajuda, e nem sempre havia o que comer, passamos muita fome. Nem da horta ele cuidava e nós, eu e minha irmâ e irmão, tínhamos pouca noção das coisas, de replantar, etc.
     Minha mãe foi-se embora, mas passados uns três anos , voltou quando soube que nós estávamos passando fome, ficando sozinhos em casa, correndo risco de todo o mal, dormindo sozinhos. Mas a briga continuava, embora ele não batesse mais, pois no dia que ela foi embora ela meteu um prato de louça na cabeça dele, tirando sangue, apanhou mais bateu também pela primeira vez.
     Pois bem, quando ela voltou ainda havia a fome rondando e meu avô havia falecido. Minha mãe e nós ajudamos a plantar arroz, feijão e milho e a horta. Passado algum tempo, um prefeito parente de minha mãe, resolve inaugurar um escola nas terras aonde a gente morava. Minha mãe ganhava meio salário mínimo, era pouco mas ela fazia este salário render. Trabalhava demais pois tinha que fazer a merenda dos alunos antes de dar aulas.
     Meu pai quando brigava com ela, por qualquer coisa, ele a mandava embora de casa. Não havia acordo. Era uma tristeza que só, ele falava que ela não tinha casa.
     Até que um dia, ela conseguiu comprar um terreno do loteamento da igreja, de minha cidade natal e fazer uma casa na cidade e todos os filhos a ajudam a construir.  Até então todos já estavam casados e moravam longe. Neste meio tempo ela consegue se aposentar, depois de muito doente, dava crises de epilepsia quando muito nervosa.      Então ela começou a ficar mais na cidade, mas ia na roça lavar roupas e deixar comida pronta para meu pai. E meu pai sempre a expulsando e humilhando-a, mas minha mãe acabava perdoando até que um dia meu pai saiu de casa levando as chaves de propósito e ela não pode entrar, ficou do lado de fora numa varanda aonde passou a noite sozinha sem comida e ao relento. Ela então deixou de ir lá. Os próprios filhos a aconselharam. Meu pai só aprontava e ela sempre solidária.
     Meu pai passou então algum tempo na roça sozinho, mas de vez em quando ia na cidade, e quando os filhos que se casaram e moram aqui em São Paulo, iam em Minas, aí sim, minha mãe ia na roça, pois na casa havia muita coisa dela, roupas de cama, etc.  E ficávamos bem confortáveis depois de limparmos a casa. Era maravilhoso ficar na roça, pois tinha frutas, cavalos, vacas, galinhas, fogão de lenha, tanta coisa boa que há nas casas de roças. Com meu pai já aposentado e juntando o que todos levavam, dava para fazer doces, queijos e comidas típicas,  os irmãos juntos, casa cheia.
     Mas mesmo assim, meu pai de vez em quando mandava minha mãe embora, era só ela contrariar um pouco a briga começava, por pouca coisa, implicância até com o jeito de minha mãe fazer comida, temperar...Ele gostava de comida bem salgada e temperada, esta era uma das causas também de brigas. Minha mãe não gostava muito de sal. Para lavar roupas ela gostava de quarar (deixar ao sol um pouco), ele falava que ela era lenta para tudo. Mas não era, ela era muito exigente consigo mesma, e caprichava demais em tudo.
     Até que, uns dois anos atrás, meu pai se acidentou sozinho na casa da roça, depois foi roubado duas vezes, uma vez roubaram oito cavalos de uma só vez. Ele passou uma semana tentando achar os cavalos, achou bem longe, depois roubaram vaca, galinhas, outra vez todas as armas que ele colecionava, ele foi ficando traumatizado, foi ficando medroso e doente, teve até câncer na próstata. E no momento está morando com mamãe na casa da cidade. Minha mãe sempre o perdoou a vida inteira, e agora quem está cuidando dele é ela. E pensamos que ele ia sossegar com as brigas, mas “nadica” de nada, agora briga por ciúmes dela.
     Quem poderia imaginar que ele voltaria a morar com ela, e ela dar guarida para ele, que humilhou minha mãe a vida inteira, mandou ela embora a vida inteira, e agora é ela quem cuida dele. O mundo tem muitas voltas, e agora está a casa da roça que ele tanta amava, lá sozinha, a casa sendo saqueada, animais morrendo, sem ninguém para cuidar, ele tomou medo de lá e disse que tem assombração e outras coisas. Que bateram nele lá.
  Agora está surdo, fraco, medroso...São as consequências da vida como vimos na novela Do outro lado do paraíso. E nós aqui com medo, que aconteça alguma coisa com mamãe que tem saúde frágil. Meu pai não é fácil de lidar, embora agora esteja bem fraco. Este foi o pai que nós tivemos, que aprendemos a amar, apesar da cabeça dura dele.
     Cada família tem em seu núcleo, problemas, lutas, dificuldades e desafios, muitos além do que a gente supõe que um ser humano possa aguentar, mas minha mãe aguentou e aguenta firme, e diz que é seu destino. Se fosse outra mulher, teria separado, traído, mas ela ficou forte e firme, e sempre pedia em orações que meu pai, parasse com as agressividades e humilhações.
     Agora ela com 78 e ele com 86 anos vão tocando o barco até que a vida os separe, e creio que nem a morte vai separar aqueles dois. Estão fazendo 60 anos de casados, e juntos estão quem sabe, até fazendo mesmo as pazes para sempre. Minha mãe é uma guerreira incrível, digna de todas as honras.
 Feliz dia das mães é todo dia, é o que peço a Deus todas as noites. Que meus pais sejam felizes juntos.

 
Versos para mamãe

Mãe! Um ente tão nobre, especial
Em seu estilo, todo o seu amor
Mãe tem sublime amor universal
Tão fraterno que cura até a dor
 
Mãe! Tanta garra e coragem
Para este mundo poder enfrentar
Tantos desafios, não é miragem
Mae! Paciência e amor para dar
 
Mae! Tão singela, cheia de saber
Cria seus filhos em cada aprendizado
Ensinando a ser cidadão, a viver
Mae! Um ente que dever ser consagrado
 
Mae! Quantos desafios trilhados
Um vida de tantos enfrentamentos
De superações, em cada passo dado
Buscando sempre o melhor sentimento.
 
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Abaixo meu pai, e amamos muito este homem sem juízo, mas um contador de "causo", e calangueiro como ninguém...Adora tocar violão, pandeiro, sanfona, cavaquinho e cantar modas do sertão. 


Norma Aparecida Silveira Moraes
Enviado por Norma Aparecida Silveira Moraes em 14/05/2018
Reeditado em 16/05/2018
Código do texto: T6336490
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