Venderam o Pedro Brás

O seu Pedro Brás, pessoa querida da pequena cidade de Brasilândia, tinha um mercadinho que levava o seu nome. Era um mercado muito promissor: estava bem localizado e tinha uma clientela fiel, que gostava do seu Pedro, que conhecia todos e chamava –os pelo nome.

O resultado financeiro dos últimos meses não condizia com o número de clientes no seu estabelecimento. Era muito cliente para pouco retorno. Seu Pedro não entendia como, com o movimento que tinha, não ter um lucro maior: ele tinha muitos anos no ramo e sabia comprar bem e colocar preços que não fossem abusivos, mas que lhe garantissem um retorno satisfatório. Contratou um segurança para fiscalizar os caixas, pois desconfiava que eles passassem mercadorias sem o devido registro para familiares e amigos.

O segurança de descendência italiana se chamava Décio Sporro que logo pegou dois caixas que roubavam e foram demitidos e encaminhados para a delegacia onde um boletim de ocorrência era o começo de um inquérito policial. Passado um tempo e sem novas informações e sem melhoras no faturamento resolveu, anonimamente, colocar uma câmera escondida para fiscalizar os caixas. Descobriu para sua tristeza que suas suspeitas se confirmavam e ainda pior que o segurança responsável e que deveria estar cuidando estava de conluio com alguns caixas, pois pode vê-lo piscar para um que passava uma caixa de cervejas sem o devido registro. Ficou triste, pois além de estar sendo roubado estava sendo roubado por quem ele tinha ajudado com o emprego – caixas e segurança. Sentia-se traído, com certo desânimo com a ingratidão que a humanidade apresentava.

Ligou para o filho Tadeu em buscas de conselhos. Ele tinha encaminhado Tadeu para estudar Administração na capital, Campo Grande, pois sabia que um dia passaria o mercado para ele e queria vê-lo bem preparado. Tadeu já tinha uma carreira promissora no setor. Ainda estudante durante o 2º ano da faculdade tinha conseguido um estágio numa grande empresa multinacional do ramo e antes de terminar o estágio ou o curso tinha sido convidado para encarregado, uma espécie de sub-administrador de um dos inúmeros mercados que a empresa possuía. Tadeu pediu um tempo para seu pai e disse que conversaria com um grande diretor americano da empresa, o Mr. Walton (era assim que ele gostava de ser chamado,uma vez que seu português claudicante era sofrível e ele sentia-se melhor falando em inglês), que tinha inclusive um grau de parentesco com o fundador da multinacional que ele trabalhava. Tadeu guardava grande admiração pelo conhecimento e competência do Mr Walton e tinha certa abertura para consultas. Era tipo um coordenador de estágio, um mentor de carreira. Em inglês contou para seu guia a história do mercado que era muito promissor, mas que não tinha o lucro merecido devido a desvios. O diretor foi pedindo mais detalhes do mercado: faturamento, localização, tamanho, quantidade de empregados e depois de um tempo vaticinou que os mercados familiares teriam cada vez menos espaço frente às grandes corporações que tinham o poder de negociação de compras aumentado e que o mercado do seu Pedro apesar de ser grande tenderia a perder faturamento mês a mês, já que sistemas de segurança são caros e acabariam por inviabilizar o negócio. Propôs que o seu Pedro ponderasse a possibilidade de vender o mercado e com o dinheiro ter uma velhice tranquila, financeiramente e sem as dores de cabeça que andam junto com o ato de administrar. Falou que, se o Tadeu quisesse, ele passaria as informações do mercado para a Diretoria de Expansão de Negócios avaliar uma eventual compra e que, caso ocorresse, ele poderia ser o indicado para administrador da filial de modo a ir trabalhar perto da família.

Tadeu, cego pela admiração que tinha do seu mestre, vendeu para seu pai a idéia que agora já era sua – parar de se preocupar com desvios e curtir a merecida aposentadoria. Seu Pedro a princípio não gostou da idéia, aquele era seu ganha pão e pretendia que continuasse a ser o de seu filho, neto e assim por diante. Como seu vigor já não era mais o mesmo e pelas últimas decepções que tinha tido com seus colaboradores deu carta branca para o filho para negociar o mercado.

Tadeu falou com o Mr. Walton que disse que apresentaria os dados para o setor responsável e depois daria uma resposta. Em uma semana veio a resposta: Tadeu foi chamado para uma reunião no escritório de São Paulo – passagens aéreas na 1ª classe e hotel 5 estrelas pagos. Numa sala gigante de reuniões 5 figurões e dois advogados sentaram do mesmo lado numa mesa retangular. Do outro lado só Tadeu. Um deles que parecia ser a pessoa mais a par do eventual negócio apresentou uma farta documentação e com slides em um power-point apresentou diversas análises: os estudo de caso, gráficos se sucediam mostrando potencialidades e riscos do mercado o retorno financeiro adequado. Tadeu ficou impressionado com a eficiência dos técnicos que tinham levantado e tratado tantos dados em uma apenas uma semana. Quando lhe falaram do valor ficou surpreso, pois a princípio era irrisório e parecia ser uma afronta, uma verdadeira galinha morta, teve seu estado de espírito acalmado e aquietado e o valor foi ficando mais palatável diante dos inúmeros riscos do negócio, ficou de conversar com o pai e depois dar um retorno. Eles que tinham usado a manhã inteira com seus argumentos sentiram-se contrariados e lhes ofereceram um telefone e disseram que naquela reunião estava um diretor para negócios no Brasil o Mr. Sam, que vinha uma vez por semestre e que caso aquilo não fosse resolvido naquele dia teriam que agendar outra reunião para dali a seis meses, isto claro se os recursos que agora estavam disponíveis para o investimento não fossem utilizados em outro empreendimento.

Ligou para seu pai e falou da oferta, mas antes que seu pai tivesse qualquer reação de indignação, o telefone tinha sido colocado em viva voz, foi apresentando números dos riscos. Quando ia falar mais alguma coisa o técnico já passava a folha com a informação e os gráficos, municiando Tadeu a fazer o seu Pedro entender que era um ótimo negócio. Por fim o seu Pedro que já tinha passado procuração para Tadeu disse que o filho que fizesse o que achasse melhor.

O mercado Pedro Brás foi vendido.

O seu Pedro descobriu pouco tempo depois que tinha feito um péssimo negócio, o dinheiro que recebeu distribuído pela sua expectativa de vida daria apenas um salário bom, mas que não deixava sonhar com outras coisas, apenas para sua subsistência. Pensou: “eu tinha um bom negócio que era para as minhas próximas gerações e agora mal dá para mim”. Tadeu que a princípio ganhou um aumento e foi promovido a gerente de uma das unidades nunca chegou a ser mandado para aquela de Brasilândia, quis cobrar a promessa e teve como resposta que ninguém prometera o lugar e sim uma indicação, mas como o política da empresa não gostaria de eventuais interferências do seu Pedro na gerência de Tadeu ele nunca foi para perto da família. Quando tentou insistir percebeu um ar frio e perturbador que inclusive fazia um tipo de ameaça velada de desemprego para funcionários insatisfeitos.

O pai remoía à noite sua decisão de deixar para Tadeu decidir sua vida. Ficou até pensativo sobre o nome que tinha dado para o filho, ele que era tão devoto de São Judas Tadeu pensava com seus botões antes eu o tivesse batizado de Judas era mais coerente com a traição que ele sentia ser objeto.

Seu Pedro chegou a ir ao mercado e ao contrário de toda a ladainha que Judas, digo Tadeu lhe dissera não viu os preços mais baixos, pelo contrário estavam mais caros e agora os pequenos agricultores que faziam o cinturão verde da cidade ganhavam menos pelos seus produtos, isto se quisessem vender, porque senão o Grande Super Hiper-Mercado poderia trazê-las de outros centros – logística eles tinham. Logística Capitalista.

Esta é uma história de ficção – mas qualquer relação com fatos verídicos não é mera coincidência é de propósito mesmo.

Estrelando como:

Seu Pedro............................................................................Povo Brasileiro

Mercado Pedro Brás............................................................Petrobráx

Brasilândia...........................................................................Terra Brasilis

Tadeu (Judas).......................................................................José Será

Déscio Sporro......................................................................Sérgio Nojo

Caixas presos.......................................................................não apadrinhados pelo PSDB

Caixas que continuavam a roubar........................................apadrinhados do PSDB

Câmera escondida................................................................tempo e alguns gritantes no deserto

Agricultores..........................................................................ex trabalhadores brasileiros

Multinacional americana......................................................multinacionais americanas

Direção de sacanagem

PSDB

Com o apoio incondicional de

Judiciário; MPF, PF, PMDB; FIESP, Congresso e outros tantos idiotas anônimos - sem os quais nada disto (esta M_ _ _ _ , digo obra) seria possível.