ONTEM FOI DIA DAS MÃES!

Dona Antônia acordou hoje de ressaca. A comilança e a festa foram grandes. Havia pessoas que nunca havia visto. Mas eram bondosas e prestativas. O ambiente era muito bom como poucas vezes ela via lá na Casa.

Lembrou vagamente que no meio da pequena multidão que em mutirão os atendeu ontem, procurou algumas vezes se algum rosto conhecido encontraria. Não foi dessa vez.

De volta à rotina a anciã jamais se dera por fracassada ou deprimida pelo abandono. Nunca quis saber o motivo. Pensava que por obra do destino as coisas aconteceram assim.

Foi uma ótima mãe, pelo menos no seu conceito. No passado fez muito sacrifício para dar um bom estudo e ao seu modo, ensinar alguns valores.

Agora, com bastante tempo disponível, refletiu bastante a respeito do assunto. Não encontrou explicação. Resignada, se alimenta das boas lembranças e está certa que fez a sua parte. Vida que segue.

O asilo é sua nova moradia já há alguns anos. Foi sua decisão.

Sua filha também é mãe e mentalmente ela deseja que tenha tido um bom Dia das Mães.

Na casa, em especial ontem, todas as moradoras se tornaram mães por um dia de todos aqueles que lá visitaram com mimos.

Ontem, aos seus modos, os filhos visitam suas mães. Aqui no sul o aroma de churrasco tomou conta do ar, foi o famoso “churrasquinho de mãe” no bom sentido é claro.

Alguns filhos fazem a visita, mesmo não parando de mexer no “uatzap” ou fazendo self com a mãe, eles estão lá e é só alegria.

No tempo da Antônia era diferente, as pessoas conversavam. Todavia, nem tudo está perdido. Hoje eles dizem (como sempre)do seu amor pela mãe. É real.

O tempo passou rápido para ela e as mudanças foram radicais.

A propósito, sua filha, quando nova, sempre expressou seu amor por ela. Talvez o amor ainda exista, pensa Antônia com uma grande dose de bondade e compreensão. Talvez tenha errado em algum momento e pede perdão num sussurro.

Talvez Antônia já nem seja mais mãe de uma filha só. Depois da festa de ontem, se tornou, simbolicamente, mãe de todos. Com filhos de todos os tipos e de todas as idades.

Neste novo conceito, as coisas clarearam.

E é assim mesmo, as mães, na reta final de sua existência se tornam mães do mundo.

São as velhas mães que distribuirão experiências para quem delas precisar.

São as velhas mães que tudo sabem. Às vezes, mostram suas sabedorias de modo estranho. E sempre perdoam! São os únicos seres da face da Terra que sempre perdoam.

Dito isto, as mães, inevitavelmente se tornarão mães do mundo.

Mesmo sendo abandonadas em asilos.

A elas, a nossa reverência. Também.

Clos