Musicoterapia.

Quando sento sozinho num bar e com cara de inimigo hostil, o garçom logo cauteloso pensa que aquele homem carrega muitos problemas e desilusões. O tipo de cara que acabou de perder as estribeiras, o emprego, a paciência e a mulher. Não quer conversa nem consigo mesmo!

Mas nem precisa ser nada disso, às vezes só quero mesmo ficar sozinho, escrever, encher a cara e me tratar com musicoterapia.

Ontem a polícia me parou na madrugada. Mandou eu descer do carro apontando uma arma para meu coração disparado. Gritaram "mãos na cabeça se não quiser levar chumbo grosso". Obedeci silente. Verificaram tudo o que podiam, vociferaram e falaram do etilometro, o qual recusei com um aceno de cabeça. Um deles, o cabo, visivelmente exaltado, tentou desferir uma dialética sobre a recusa ao teste, sobre a honra e os bons costumes, constituição, legislação consuetudinária e a devastação que o álcool causa no Mundo..., até que o sargento, para o alívio de meus ouvidos, o chamou. Passados alguns minutos, não contente, voltou e me aplicou infração sob o argumento de que eu estava bebado e recusei o teste.

No campo obrigatório do auto de infração, assinalou no quadradinho: fala alterada.

Moral da história: eu só abri a boca para fumar um cigarro.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 19/05/2018
Reeditado em 19/05/2018
Código do texto: T6341021
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