AMANDA DE VOLTA AO BRASIL

Amanda, para os de boa memória, passou dramáticos perrengues em sua lua de mel, a bordo de um iate no Mediterrâneo. Tudo por conta de ter deixado escapar de sua arcada uma prótese dentária. Lutou, em vão, para recuperá-la e terminou sendo confundida com um ser tomado por espírito-de-porco. Mas, o vexame foi resolvido e consolidou seu matrimônio com o encantado parente dos Grimaldi’s. Residiam em Mônaco sob invejáveis conforto e luxo.

Já com dois filhos monegascos, de oito e seis anos, programaram viagem ao Brasil para visitar familiares capixabas-pomerânios de Amanda, no Estado do Espírito Santo e curtir praias do Rio Grande do Norte, muito comentadas e elogiadas nas rodas sociais do Principado.

Embarcaram em Paris na primeira classe do voo internacional da Air France. Ao desembarcar no Rio, quando da verificação pelas autoridades aduaneiras das bagagens pessoais, identificadas e personalizadas, Amanda foi surpreendida com voz de detenção e “convite” para prestar esclarecimentos sobre o conteúdo de sua mala. As autoridades policiais encarregadas da vigilância e controle de tráfico de drogas e entorpecentes encontraram peças de roupas femininas recheadas de comprimidos não rotulados. Sob a vista de Amanda e testemunhas escancaravam a valise e mostravam inúmeras cartelas de comprimidos escamoteadas entre as peças de roupas.

Amanda declarou-se inocente e surpresa. Estava segura de que aquela não era sua mala. Contudo, reconhecia-a ser idêntica em modelo, marca, cor e detalhes à que continha os comprimidos. A etiqueta de identificação de bagagem aposta na alça correspondia plenamente a seu bilhete e ao tíquete de resgate em seu poder. E para complicar: reconhecia, ainda, serem suas as peças de roupas ali mostradas.

Embora os agentes policiais não declarassem, suspeitavam, por experiência, tratar-se de LSD (ácido lisérgico), droga sintética alucinógena. Por sua vez, Amanda não tinha a menor ideia do que era LSD nem de seu efeitos. Era novidade naquela época. Pensava serem os comprimidos emprenhados em sua bagagem, medicamentos menos nocivos, como soníferos ou tranquilizantes do tipo Prozac ou Rivotril.

Aos prantos, sentia-se desconsolada e vítima de uma acidental trama em seu próprio país. Solo que se alegrava em novamente pisar para matar saudades de seu povo. Algo haveria de ser feito para comprovar sua inocência. Charles, seu esposo, pouco podia fazer, sem conhecer nosso idioma, tampouco nossos costumes e leis.

Pediram aos policiais para colocá-los em contato com a representação diplomática do Principado de Mônaco. Ficaram sabendo que os assuntos diplomáticos daquele país eram tratados pela Embaixada da França, em Brasília. Identificaram-se por telefone e relataram o ocorrido. Quase nada demorou para terem a seu lado o Cônsul Francês no Rio de Janeiro, devidamente acompanhado de advogado pronto a prestar a assistência necessária.

Sob responsabilidade e custódia do Consulado Francês, Amanda foi liberada, ficando à disposição da Justiça. Com isso, não puderam levar consigo a mala-objeto do imbróglio. Concederam-lhe, entretanto, sacar algumas peças íntimas, considerando as necessidades femininas especiais. Sem muita escolha, removeu duas calcinhas e um sutiã e discretamente as guardou em sua bolsa a tiracolo. Também na delegacia aeroportuária ficou retido o passaporte de Amanda.

Na incerteza do desdobramento do episódio, cancelaram os lugares já reservados para o deslocamento para Vitória/ES. Assistidos pelo Consulado, adquiriram roupas e hospedaram-se no Hilton Hotel, em Copacabana.

As tratativas diplomáticas e investigações ganharam incrível celeridade com a intervenção pessoal do Príncipe de Mônaco junto à embaixada francesa no Brasil. Não se tardou a descobrir que no Aeroporto de Orly, em Paris, operava uma quadrilha de traficantes mancomunados com funcionários encarregados do embarque de bagagens. Escolhiam bagagens de pessoas importantes –preferencialmente e diplomatas - com pouca probabilidade de serem submetidas a fiscalização nas aduanas, para introduzirem suas muambas nas valises pessoais.

Dia seguinte, esclarecido o incidente, a mala de Amanda foi devolvida devidamente livre de qualquer comprimido.

Aproveitaram a estada no Rio para um breve circuito turístico: Pão-de-Açúcar, Corcovado, Copacabana etc.

Remarcaram seus assentos no trajeto para Vitória. Durante o voo, Amanda sentiu forte dor de cabeça e resolveu tomar dois comprimidos de analgésico buscados displicentemente no fundo de sua bolsa.

Do nada, Amanda surtou. Pulou para o corredor da aeronave, disparou a dançar freneticamente, mesmo sem música. Fazia dança do tipo cancã mostrando suas intimidades. Mesmo no desembarque, Amanda continuava a se soltar em danças e incoerentes rebolados. Charles lembrou-se do episódio no iate durante a lua de mel. Engrenou algumas rezas até acalmar Amanda. Enquanto se deslocavam de táxi até Venda Nova, Charles conferiu a bolsa de Amanda e certificou-se que ela havia tomado, ao invés de analgésicos, comprimidos daqueles contrabandeados acidentalmente chegados a sua bolsa.

Assim que pode, se comunicou com os agentes da delegacia aeroportuária do Galeão e ficou sabendo que os compridos emprenhados na bagagem de Amanda eram de LSD, droga alucinógena de efeito psicodélico, ativadora do metabolismo e das reações motoras.

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 21/05/2018
Código do texto: T6342502
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