Senzala do século XXI.

Entro num café em Belmonte, cidade onde nasceu Pedro Álvares Cabral, aquele que segundo a história descobriu o Brasil.

No café a atendente trabalhava e ao mesmo tempo chorava muito, um senhor pede uma cerveja e pergunta: Porque a menina chora tanto? Aquela pergunta foi como escarafunchar uma ferida, pois a mesma chora muito mais ainda.

Como uma fera enjaulada, sai o patrão da cozinha e lhe ordena que limpe o chão enquanto ele sai, pois voltaria dentro de duas horas e quando voltasse se o chão não estivesse limpo ele iria obrigá-la a limpar com a língua, entra em seu carro e arranca em alta velocidade.

Na hora me reportei as senzalas que era uma espécie de habitação ou alojamento dos escravos brasileiros, eram galpões de porte médio ou grande em que os escravos passavam a noite. Muitas vezes, os escravos eram acorrentados dentro das senzalas para evitar as fugas.

Costumavam ser rústicas, abafadas (possuíam poucas janelas) e desconfortáveis. Eram construções muito simples feitas geralmente de madeira e barro e não possuíam divisórias.

Os escravos dormiam no chão duro de terra batida ou sobre a palha. Costuma haver na frente das senzalas um pelourinho... coincidentemente aqui próximo a este café há um pelourinho e do outro lado como testemunha a estátua do Pedro Álvares Cabral que permanece lá intacta vendo tudo isso sem nada poder fazer.

A atendente aproveita a ausência do patrão e desabafa com o senhor que pediu a cerveja, segundo ela entra no café as 6 horas manhã, faz toda a faxina, as 8 horas abre ao público, ela tem direito a tomar um café o que vier depois disso tem que pagar, mas para economizar seu mísero salário ela não come nada porque tem uma filha que depende dela.

Disse que o patrão é o diabo em pessoa, ela só sai para almoçar as 15:30 horas, retorna às 19 horas e o horário de saída só Deus é quem sabe, mas disse que já chegou a trabalhar 15 horas por dia e todos os dias é humilhada.

Eu na brincadeira disse: “Então você trabalha numa senzala, porém moderna, as correntes para não fugires são as horas que te prendem aqui, as chicotadas são os insultos do seu patrão e em toda senzala costumava ter um pelourinho à frente e se olhar da porta verá que há um ali.

Perguntei-lhe: Você vai fugir ou está a espera que seu patrão lhe der a carta de alforria?

Ela refletiu e disse emocionada: Após esta definição vou pensar muito na minha vida e quando voltares cá verás que aqui não estarei mais.

#VS

Velto Silva
Enviado por Velto Silva em 26/05/2018
Reeditado em 10/01/2020
Código do texto: T6346857
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