Carteira

Da série: PARÔNIMOS NOSSOS DE CADA DIA.

(Não quero esmolas, apenas uns trocadilhos)

Carteira

De uma hora para outra uma sucessão de furtos acometeu a cidade de Iracema de Alencar. Gatunos de mãos-leves conseguiam, como por magnetismo, atrair dos bolsos traseiros das calças masculinas os porta-cédulas. Só queriam mesmo o dinheiro.

Concluída a retirada, o artefato de couro era abandonado em via ou praça pública ou ainda em terreno privado, conforme o local da desova.

A polícia, com número reduzido de agentes, recolhia os itens abandonados e os levava para a seção de Achados e Perdidos dos Correios.

Nesta mesma época, a citada empresa pública recebeu um contingente extra de novos profissionais, aprovados por concurso público no ano anterior. O grupo era formado predominantemente por belas mulheres, registradas na CTPS como entregadoras de correspondências e que em futuro próximo desempenhariam esta função. Momentaneamente, devido à grande quantidade de objetos a serem reavidos pelos legítimos donos, por questões de necessidade operacional, incumbir-se-iam da triagem e devolução dos mesmos, quando reclamados pelas respectivas vítimas, após, é claro, os procedimentos assecuratórios da identidade dos proprietários.

A beleza das representantes do sexo feminino, não devia nada à beleza de Afrodite, Vênus, ou Helena de Tróia, seja qual for o viés mitológico cotejado.

Isto posto, cumpre-me informar que toda a população adulta de homens da cidade, sabedora dos atributos estéticos das recém contratadas funcionárias da empresa postal, afluiu de chofre à agência dos Correios, mais especificamente ao setor de Achados e Perdidos. Chegando lá, tomados de basbaque, tartamudeavam e produziam suores “testosteronizados”. Quando perguntados sobre o que desejavam, os homens, vítimas reais dos furtos ou de conveniência, após vencerem o estágio de estupefação, diziam: Eu vim à procura de uma carteira, de uma bela carteira.

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