JÁ DIZIA MINHA AVÓ...

JÁ DIZIA MINHA AVÓ...

"O virtual não se contrapõe ao real tal como

o conhecemos no cotidiano; é, na verdade,

uma espécie de extensão do Mundo que

denominamos como real" (...): o virtual não

"substitui" o "real", êle multiplica as oportu-

nidades para atualizá-lo".

RENATO NUNES BITTENCOURT, citando

Pierre Levy, in rev. FILOSOFIA, nº 68, 3/2012

De repente o imenso oceano de oportunidades (?!) que foi promessa primeira da Internet "evaporou", a fase atual me lembra aqueles espelhos multifacetados de circos mambembes, onde a gente se vê bom e belo no quadro central, enquanto os curiosos "transeuntes do espaço cibernético" enxergam apenas monstros disformes nos espelhos paralelos. É preciso um certo autocontrole, as tais Redes Sociais "enredam" o sujeito em suas teias de egocentrismo, egolatria exacerbada "camuflada" de "post" pessoal ou familiar.

Essa talvez seja hoje a "armadilha" maior de um meio de comunicação-relâmpago que deveria ser destinado à difusão das Artes, dos fazeres artísticos e da palavra poética, literatura, música, pintura e mil e um caminhos semelhantes. Mas o que temos ?! 6 BILHÕES de "selfies", todas na mesma sala ou casa, vestidos ou pelados. Um TÉDIO visual monumental... será que não tem ao nosso redor -- no bairro onde nascemos ou na cidade em que vivemos -- nenhum jardim, algum monumento curioso, quem sabe um bar ou loja incomum, um artista de rua, alguém interessante ?! Por quanto tempo mais você pretende "se fotografar" dia após dia ?! Foi "pra isso" que se criou o Facebook, o Instagram, o Whatzapp ?!

E entramos no "segundo estágio": os "formadores de opinião"... como se precisasse ! Pois, acreditem, essa novíssima "Geração 2G" parece mesmo carecer de alguém QUE PENSE por êles... e elas ! Pobre de quem -- por vontade própria -- ousar pensar diferente ! Se externar sua opinião (em linha oposta a da "galera") será defenestrado do "cardume", criticado, xingado, "desseguido", desadicionado. Até mesmo o pessoal antigo, de bom-senso, "50tão" ou sessentão, criado em época onde se podia SER SINCERO, embarcou nesse "Bateau Mouche" moderno e só quer ouvir BAJULAÇÃO, elogio rasteiro. Nem mesmo piada velha, milenar, se pode repetir mais... perde-se amigos por "culpa" do comentário mais banal, simplório.

Tudo indica que perdi um amigo de infância -- recém-achado na Internet, 55 ANOS depois -- por comentar que "com uma boca tão grande, não sobraria bolo para ninguém"... na foto de bela menina de 8 ou 10 anos. "Meu mundo caiu... a jovem era neta desse amigo ! Nos primeiros dias deste "junho invernal" numa Belém que deveria estar a 40 graus -- ah, você discorda ? vá pro Inferno ! -- ousei discordar do video postado por um escritor local, "autodidata" em violino, segundo êle próprio. "Tasquei", como comentário, um sonoro "Coitados dos vizinhos!", recebendo em troca a mensagem que eu queria dizer COM ISSO que êle tocava mal, segundo opinião de sua avó, não sei se já falecida. O rapaz tem minha admiração por tudo o que fez (e faz) pela Cultura aqui em Belém, mas esse tipo de "interpretação" a Justiça brasileira vem fazendo, para desgosto da Nação.

Até que inventassem a rabeca -- "nona" do violino -- o "rei do barulho" era o tambor, atabaque, "lê" ou "rumpi" no Candomblé, "candongo" ou "carimbó"... com o rock veio a BATERIA e o violino "divide" com ela o título de instrumento "insuportável... nada tendo a ver com a QUALIDADE da execução. Nosso barraco num Morro carioca ficava ao lado de um "terreiro", "centro de macumba", aos sábados e domingos virava "terreiro de samba". Só quem viveu situação igual pode avaliar como PERTURBA, goste-se ou não do instrumento. Atualmente, um jovem vizinho aprende flauta sozinho, dessas de plástico, baratas. Só toca POR HORAS "Asa Branca" e "Jesus, minha alegria", se é que êle conhece o título em alemão. Foi COMO PIADA milenar que eu digitei "Coitados dos vizinhos", mas o escritor sulista que visitou Belém semana passada, autografando seu mais recente romance, compara as Redes Sociais a um "zoológico", onde os animais correm todos atrás do líder ou de quem estiver mais à frente. Se este teme (ou detesta) algo, todos os demais "copiam" o gesto ! Como não estou num zoológico, irei CONTESTAR algo ou alguém sempre que me der vontade e, como dizia a MINHA AVÓ... "os incomodados que se mudem" !

"NATO" AZEVEDO (em 16/junho 2018)