O amanhecer

São cinco horas da manhã. Os pássaros começam a organizar a cantoria de mais uma alvorada. Para alguns pássaros, poderá ser a última alvorada, pois são volúveis ao perigo.

No galinheiro da casa vizinha, um galo bate as asas por duas vezes e ecoa o seu lindo canto. Uma, duas, três vezes. No mesmo instante, do outro lado da cidade, um, dois, três, quatro galos também fazem o mesmo. Cada canto é um pouco diferente, porque é observado pelo ouvido de um músico.

No telhado é ouvido o barulho e o reboliço de alguns pombos, com seu arrulho marcando lugar ou tentando convencer o companheiro de mais um dia que será aventurado por eles.

Um barulho mais fraco é sentido. É o pequeno reboliço de algumas andorinhas, pois é início de primavera e frescor da noite, associado ao perfume das flores, torna o dia mais lindo, mais brilhante e mais destemido.

Passos fracos são ouvidos, lá na calçada. Não são pessoas, mas são alguns cães que vagam pelas ruas à procura de algo para comer. Talvez seja sua primeira refeição, pois são animais esquecidos pelos donos ou animais em fuga.

Na rua do lado de cima, um estrondoso barulho de um motor de um caminhão puxador de leite. Uma, duas, várias aceleradas para aquecer o motor, pois o dia será muito trabalhoso.

São ouvidas vozes de alguns trabalhadores rurais que vão a caminho de seu destino: A fazenda onde se produz o leite fresquinho para a população.

Ali, na esquina da rua principal, algumas vozes são sentidas bem baixinhas. São as vozes de algumas pessoas que esperam o ônibus para viajarem até a capital. Risos, tosses, espirros, tudo isto é percebido dentro do quarto, ainda escuro pelo breu da noite, estando prestes a se tornar claro com um simples toque no interruptor de energia elétrica.

Um pequeno rolar na cama encerra uma longa noite de sono, com muitos sonhos, talvez algum pesadelo. Ainda se percebe que um mosquito, chamado de pernilongo, com seu sonzinho irritante, voa soberanamente da cabeceira da cama para o teto do quarto, cheio de sangue furtado na noite. Irá esconder em algum lugar escuro para a digestão.

O primeiro brilho do dia encosta na janela do banheiro. É o reflexo da luz solar, ainda não nascida no horizonte, mas a radiação inicial refletida pela imensidão do céu, com algumas poucas estrelas, que aos poucos vão desaparecendo e dando lugar à forte luz solar.

Meio irritado, com as mãos sobre o rosto, a mente espera os minutos finais para que o som do relógio despertador inicie a sua serenata, não para dormir, mas acordar para um novo dia, um dia cheio de emoções, aventuras, trabalho, alegria, tristeza e tudo o que vier, pois é assim o amanhecer em qualquer parte de uma cidade pequena.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 27/06/2018
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