Colibri de Asas de Vento

Foi uma querida que me convidou: 
- Rose, vamos nadar na FURB? 
- Mas, eu não sei nadar! 
- Aprende!
Me empolguei. Fui ver o atestado médico. Com meu problema de coração tive de pedir autorização para o meu cardiologista para só então conseguir o atestado. 
Liberada, fui pro site da FURB no dia marcado e me inscrevi. Nem bem a inscrição foi e eu já tinha me arrependido. Lembrei que morria de medo de água (quem me conhece sabe que perdi um irmão por afogamento e desde lá...) .
Tarde demais. Tinha ido a inscrição. Então tive de ir nadar. 
E compra maiô de natação, ganhei a touca da Dani, peguei um óculos velho do Júnior, lembrei de pegar aquele velho roupão (pra quando chegar o frio). Montei o kit de apetrechos de natação. 
Cheguei lá e expliquei pro professor que tinha medo de água. 
Ele me colocou na minha raia. Digo minha porque só eu uso (ela é especial, tem uma barra do lado pra se agarrar na hora do pânico). Os outros nadadores escolhem raias bem longe dela... 
Bom, no primeiro dia eu só caminhei na água. Pra lá, pra cá, pra lá, pra cá... Mesmo assim, contei a um amigo querido e ele cheio de acreditamento brincou comigo me chamando de "Michael Phelps". E me disse que minha odisseia na água ia virar filme da Marvel!!! E que depois eu posso começar futebol americano! E que por ser uma atividade sem impacto posso nadar até "idade avançada"! E que posso ter uma atividade física que me acompanhe até 90 anos! E que aos 90 posso aprender basquetebol!!! Isso que é acreditar no ser humano!!!! Que voto de confiança!!! Que motivação!!!!
Devidamente motivada parti pras aulas. Perdi o medo da fundura. A piscina mede 1,66 cm e eu 1,63 cm. Então tenho de ficar na ponta do dedão do pé. E consegui. 
E segui aprendendo. Nunca pensei que ia ser tão difícil encarrerar de fazer três coisas juntas: respirar, bater braços e pés. Que dificuldade! É como dirigir. Tens de usar mão, pé, olho, mente, tudo junto. 
O profe, vendo minha dificuldade pediu se eu conseguia boiar de costas. Eu tentei e fiquei boiando. Então ele disse: 
- Agora bate os pés.
Eu bati os pés. 
E não é que comecei a sair do lugar? Foi como descobrir ouro. 
Vimos que ia bem nesse modo e começamos a intensificar. 
Um mês passou e o professor animado com meus progressos. Até me usou como exemplo de motivação para outros alunos, né amiga?
No fim de março ele me pediu pra me inscrever em mais horários de nado. Fiquei esperando o dia de inscrição e achei os horários de segunda e quarta. Comecei a ir mais dois dias por semana.
Ah! que foi muito bom. Com três nados por semana comecei a progredir mais.
Quando vi estava nadando de verdade. De costas! Nado de costas!
Claro, me afogando de vez em quando. Tomando muita água, mas nadando.
E um dia veio a glória! Ah! Que dia! Recebi um elogio do professor.
Eu cansada, parei a uns 10 metros do final da raia. O professor veio ver se estava tudo bem e ficamos conversando. Nisso passou um colega fazendo muito barulho e jogando muita água. Eu perguntei:
- Que tipo de nado ele está fazendo? 
- O mesmo que tu fez, com a prancha, batendo pé.
- Nossa, e eu também nado assim? Fazendo tanto barulho?
- Não, esse modo você nada melhor! Tem mais velocidade e pernada forte na batida do pé!!!!!
Ah!!!!! 
- Posso falar pra ele?
- Pode, disse o professor
Fui contar pro colega! Ele não entendeu. Então o professor mesmo contou.
Na saída do nado nem falei nada, mas olhei não sei como sorrindo para o meu querido amigo e colega de natação e ele já foi me denunciar pro professor:
- O professor quis motivar a aluna e agora ela só está me fazendo bullying!!!!
kkkkkkkkk
Aquele dia foi o ápice, a glória da "Michael Phelps da minha raia". 
Ganhei o dia, a semana, o mês, o ano!!! Tenho velocidade e pernada forte na batida do pé!!!! 
E assim minha experiência de nado seguiu e fui melhorando. 
A Daniela disse que vai chegar o dia que vou atravessar o pacífico, como alguns loucos por aí fazem. Quer mais motivação do que isso? Isso é que é incentivo. Não tem como não ir em frente com alguém te motivando e torcendo pra você conseguir a superação total.
E o dia que fui promovida e considerada digna de usar um pé de pato? Que felicidade!
Felizmente tinha um pé de pato que é número 37 pequeno. Feito pra mim. 
No início tive dificuldades. Não sabia colocar o aparelho. Foi complicado, mas enfim consegui.
E me fui. Que velocidade! Que leveza! Que maravilhoso nadar com asas...
Ao terminar o dia prometi que nunca mais ia querer nadar sem pé de pato de tão bom que era. 
Aprendi a respirar embaixo da água. 
Aprendi a nadar com os olhos abertos embaixo da água. Quer ver emoção de poder ver o fundo da piscina.
Aprendi a nadar com óculos - agora sim posso ver tudo debaixo da água...
Aprendi a nadar fazendo apneia e com os braços esticados (mãos coladas pelos dedos como o profe ensinou).
Aprendi a bater os braços.
Mas... não aprendi a nadar de frente sem prancha ou macarrão. Isso não aprendi. Não consigo sintonizar braço, perna e respiração...
E então na quinta dessa semana que passou veio o final. Foi meu último dia de aula.
O professor me disse:
- Vais nadar duas voltas de costas e depois vais brincar na água do jeito que quiseres com o pé de pato.
Ah!!! Que presente, que final feliz.
Nadei minhas duas voltas e ganhei o pé de pato.
Na primeira volta o professor correu pelo lado da raia pra chegar junto lá no fundo porque disse que eu ia tão rápido que ele achou que ia esquecer de parar e acabaria rachando a cabeça contra o paredão.
Que velocidade, que leveza, que maravilha o nado com asas...
Um final maravilhoso de aula. Nadei tanto, tanto, tanto que depois, em outra atividade, me doía as pernas do esforço que fiz. Fiquei uns dois dias toda dolorida. Mas valeu a pena.
Me superei! Sim, superei meus medos e minhas próprias limitações.
Um dia fui vestir uma camisa e ela ficou apertada nos bíceps. Descobri que estou perdendo massa gorda e ganhando massa muscular. Me sinto melhor, respiro melhor. 
Estou amando nadar! Estou feliz com minhas conquistas!
Agora já tenho ritmo, segundo o professor. Bato os pés dizendo mentalmente: 1, 2, 1, 2, 1, 2 e me vou, colibri de asas de vento da minha raia...
Muito feliz! Muito! Nestes dois últimos anos são tantas mudanças na minha vida, tanta coisa nova que aprendi, tantas conquistas pessoais. 
- Eu, Rose, com 50 anos, perdi o medo de água, da fundura e aprendi a nadar (de costas, mas aprendi - no próximo semestre a meta é aprender a nadar de frente e mergulhar). 
Não é maravilhoso que eu aprendi a nadar? E mais: tenho "ritmo", "velocidade" e "pernada forte na batida do pé"!!!!!!!!!