O QUE É MESMO "FAMÍLIA"?

Pessoa conhecida recebeu pedido para ajuda financeira a determinado parente de sangue, em momentânea dificuldade. Alguém, por ele, solicitava ajuda da família. Aí, pus-me a cogitar sobre o que verdadeiramente é “família”. É claro que a consangüinidade surge, à primeira vista, como fator muito importante, mas será? Se eu tivesse um tio que residisse em Rondônia e que não visse há mais de cinqüenta anos e com o qual não tivesse qualquer contato, poderia atribuir-lhe tanta relevância emocional em minha vida? Mesmo brigados com filhos ou netos, os pais sempre serão família, o mesmo, em princípio, com irmãos, mas aquele hipotético tio é realmente meu familiar? É difícil responder, os vínculos de sangue costumam ser fortes em nosso espírito, mas eu diria, neste caso, que não se trata de “família”, mas de parente. A diferença é muito significativa: quando casei, quando nasceram meus filhos e netos, quando escrevi meu primeiro livro ou quando faleceram meus entes queridos, esse parente distante de algum modo se manifestou? Ora, se levou vida absolutamente independente do meu mundo e não me deu atenção, deverei ajudá-lo por estar numa “pior”, por mais comovente que a situação possa revelar-se? Respondam vocês. Eu me inclino, não pela indiferença, mas pela manutenção do “status quo”, ou seja, que tudo continue como sempre, apesar do sentimento de consternação. Mas é uma situação que mexe com a pessoa. Se ajudá-lo, estarei subtraindo ajuda justa e devida a filhos, netos ou parentes íntimos, inclusive, em alguns casos, a bons e fiéis amigos. Mas, nesta hora, também pesa a representação consangüínea e familiar, pois nos sentimos um pouco no papel dos pais e avós. Não é tão simples e a questão proposta não tem cunho eminentemente financeiro. Creio, no entanto, que não dá para aceitar passivamente a máxima abrangente e imprecisa de que “devemos sempre ajudar a família”. Parente assim não é propriamente família. Mas o bicho sempre pega. Não vivi a experiência com parente tão distante e escrevo em tese, não sei qual seria minha reação se o chamado envolvesse expressiva colaboração.