Fins

A amizade. O amor. Eu. Os nós desatados, o frio na barriga, a fidelidade ou a falta dela. Eu. Eu em abismos meus. Uma fonte insaciável de aflições só minhas. Um não aqui, outro ali. Nós em diferentes abismos. Eu. Eu por mim e por nós. Até quando? Quem há de ser por mim, se sempre fui por nós?

De fim em fim vamos nos recompondo. Sentir a dor de perder alguém a quem amamos, ser vazio. Perder um inimigo, um amigo, um filho, um pai ou mãe, um esposo, ou esposa, perder. Sentir-se só, ainda que todos estejam aos nossos lados, perder o rumo e perder-se.

Desabrochar em novos jardins, tentar recuperar antigas flores, respirar o ar de quem nos recepcionou. Eu. Nós. Desatamo-nos. Quem há de nos amar senão nós mesmos?

Em quantos abraços eu morei até chegar ao abismo de ser e me reerguer deixando pra trás flores que eram essenciais no jardim? Um adeus a quem ainda está ao nosso lado, talvez seja mais doloroso que dar um adeus a alguém que se diluiu no tempo.

Quantas verdades precisam ser cuspidas até nos reconhecermos sem o nó na garganta? Querer ir e não poder, querer voltar e estar preso em si, prender-se ao outro?

Como lidar com a morte do amor ou da amizade? Ressigniticar, fazer transplante de sentimentos, morrer aos poucos, perder-se de si. Eu. Nós. Não há! Houve um dia? Havemos de ser, talvez não sejamos, talvez a distância de mim não alcance o tu, talvez, talvez, talvez...

Calar-se. E permitir que o tempo seja.

Gilson Azevedo
Enviado por Gilson Azevedo em 19/07/2018
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