Numa Manhã de Julho

É claro que o novo dia vem e o sol sobe alto mesmo nessas manhãs de inverno. Quero levar meus cães para passear ao sol entre as árvores. Quero ficar longe dos telefones celulares por um tempo apenas. Quero cantar, quero ler os romances e contos e poemas dos amigos que se acumulam na pilha esperando que eu os leia. Quero amar e falar bem e valorizar a minha cidade de Ribeirão Preto e sua história e o seu legado.

Quero ir às reuniões literárias e falar bem dos meus amigos, sobretudo, que são muitos, sim. Quero ser grato, à vida, principalmente. Quero conversar com meus amigos seus papos doidos e esotéricos de discos-voadores. Quero crer e ter esperança em algo maior.

Não quero pensar na política brasileira que massacra e espolia e mascara toda a verdade tolhendo as vidas de tanta gente, que creio e sei que é boa. Quero me alienar, como uma criança, por pouco que seja, pois uma tal dose de pureza e ingenuidade não só fazem bem como são vitais para se poder prosseguir sem despedaçar-se talvez para sempre.

Quero ter alegria. Quero amar. Quero ver minha mãe velhinha e viva ainda por muitos anos. Quero crer. Quero retornar a me felicitar com as coisas simples, com a vida simples que levo, antes que me esqueça de vez de como se faz e de como eu era, tão bonito, tão inocente e tão lépido, e que não me perca definitivamente de mim.

Quero escrever crônicas simples como essa e ter a certeza de que sou lido, sou amado, sou reconhecido, e, sei lá como, que isso possa transformar por bem e dar algum alento, mesmo que difícil, às pessoas.

Quero amar, antes que meu coração se apague totalmente e eu volte a ter a surpreendente e terrível, estranha sensação, de que não estou vivo, de que nunca nasci. Que eu renasça então com o sol de hoje deste julho com toda a ferocidade pela vida, o único e maior bem de todos os bens que tanto amo, sim, e que só resta mesmo amar em verdade.