A DITADURA "QUE NÃO EXISTIU" !

A DITADURA "QUE NÃO EXISTIU" !

"Por esse pão pra comer, /

por esse chão pra durmir... /

Deus lhe pague" !

CHICO BUARQUE (ou "Julinho...)

"...indecisos cordões (...) / acreditam

nas flores / vencendo o canhão. / (...)

nos quartéis lhes ensinam / uma antiga

lição / de morrer pela Pátria / e viver

sem razão". (trechos da canção)

GERALDO VANDRÉ (1968 ?)

Por onde andava o soldado JAIR quando "Jango" foi deposto e uma Junta Militar assumiu as "rédeas" da Nação no fatídico 31 de março de 1964 ? Provavelmente retido -- quem sabe, talvez detido -- num Quartel qualquer, a salvo das barbaridades cometidas "lá fora", prisões, demissões, "aposentadorias" forçadas e até deportação, em alguns casos. Fora os "sumidos", os desaparecidos, os "suicidados" como Wladimir Herzog, entre tantos outros.

Enquanto o "Julinho da Adelaide" compunha "Cale-se", digo, CÁLICE -- para driblar a grotesca Censura -- cumprindo o "slogan" "BRASIL: AME-O OU DEIXE-O !" os detentores do Poder expulsavam do país jornalistas, bispos, políticos, sindicalistas e até artistas, como Gil e Caetano... a "bomba" do dia 30 de abril de 1981que exlodiria no RIOCENTRO foi somente uma de tantas outras mais, como as que foram postas na sede do jornal O PASQUIM, tendo demolido boa parte da Redação, na segunda "tentativa", aliás, ATENTADO, em 10 de maio de 1970.

Era pouco... assim que entrevistaram Dom Hélder Câmara -- Bispo comunista, na visão militar da época -- o jornal foi apreendido nas bancas e, a partir daí, 1 censor passou a atuar dentro da Redação. Com O Pasquim MUITO CENSURADO a tiragem caiu de 180.000 para menos de 60 mil exemplares. Nem assim a sanha da Ditadura "que não existiu" diminuiu... em 1º/nov. de 1970 foram presos 9 jornalistas d'O Pasquim no DOI-CODI carioca porque, segundo a Justiça Militar, "suas atividades jornalísticas atentavam contra a Lei de Segurança Nacional". Ficaram presos por 2 meses, com sérios prejuízos para o Jornal. (in "Jornal do Século, editora CARAS, 1999)

O "livrão" de 904 páginas e 4 autores (AQUINO, Fernando VIEIRA, Gilberto AGOSTINO e Hiran ROEDEL) "SOCIEDADE BRASILEIRA: UMA HISTÓRIA" (da editora RECORD, vol.2, 2000 ?) é pródigo em exemplos das "atividades" da Ditadura... "que não existiu", segundo o que um candidato à Presidência teria declarado no programa 'Canal Livre" dias atrás -- não vi nem pretendo ver -- o mesmíssimo que NÃO VOTAVA enquanto militar e agora pede nosso voto. Leia-se nas suas páginas que a Ditadura (que não existiu) CASSOU em apenas 15 dias "mandatos e direitos políticos de 300 cidadãos, além de colocar na Reserva 270 oficiais superiores", suponho que contrários ao golpe militar. (pag. 675)

"Nas Universidades, sujeitas a intervenções e invasões, houve prisão de alunos e professores, muitos sendo expulsos ou aposentados. Centenas de sindicatos foram invadidos e colocados sob intervenção. As ligas camponesas igualmente acabaram sendo extintas. (...) Calcula-se que cerca de 50 MIL pessoas foram presas nos primeiros meses da Ditadura Militar. (...) "No Rio de Janeiro houve tão elevado número de prisões que um campo de futebol (...) foi transformado em verdadeiro campo de concentração". (pag. 674)

O fanático (e)leitor "jairista", cego a tudo, achou muito ?! Pois tem mais, bem mais ! "Já no dia 1º de abril (*1964) começou a repressão a imprensa escrita: tropas ocuparam sedes de jornais; jornais foram empastelados, como o "Última Hora", no Rio de Janeiro; outros foram fechados de imediato (cita-se 8 deles), além das revistas "Cadernos do Povo Brasileiro", "Brasiliense" e "Estudos Sociais". Jornalistas tiveram de se exilar (...). Prisões e cassassões de direitos políticos de jornalistas começaram a ocorrer. (...) ...houve também os mortos e desaparecidos como... (pag. 685)

"Para se ter uma idéia, nos 1065 dias desse governo (OBS: de Castelo Branco - 1964/67) foram efetuados 3747 atos punitivos, incluindo: 116 cassassões, 547 suspensões dos direitos políticos por 10 anos, 526 aposentadorias, 569 reformas militares, 1574 demissões e 22 exonerações, entre outras punições". (pag. 685)

Fico por aqui... ainda jovem vivi essa época, ouvindo toda noite "A VOZ DO BRASIL" relacionando a imensa lista de perseguidos e injustiçados. Pouco se fala das bancas de jornais que eram incendiadas de madrugada, porque vendiam às escondidas revistas e publicações que deveriam ser recolhidas. Ouvi dizer que uma jornalista "engasgou" com a declaração desse "projeto de doido" que muita gente parece pretender transformar em presidente desta desmoralizada, desacreditada e desgraçada Nação. "É um povo SEM MEMÓRIA"!, disse alguém algum dia !

Que fiquem todos cientes... foi um período de trevas para as Artes e a Cultura, sem lançamento de livros, com repressão às Rádios e aos compositores e letristas, com discos recolhidos ou RISCADOS -- por causa de 1 faixa qualquer -- teatros sendo fechados ou com censores na platéia e tendo que apresentar 1 "prévia" da peça antes da liberação. Querem mesmo a VOLTA desse "inferno" ?! Escolas eram fechadas e até ordenaram a demolição do prédio da UNE - União Nacional dos Estudantes, em Botafogo, apenas para "mostrar" aos jovens rebeldes daqueles "anos de chumbo" quem mandava no Brasil. Amigos meus da infância num colégio do Paraná "apagaram" tudo isso da memória e querem esse "brutamontes" sem razão para MUDAR a Nação. E que "mudança" nos aguarda na próxima "esquina" !

Me vem à lembrança trechos de canção do genial multiartista "Bebeto" Monsueto, infelizmente já falecido: "Nas varandas / desse prédio imenso / tinha gente pra cantar, / tinha gente pra sorrir, / tinha gente pra dançar ! / Hoje não se canta, / hoje não se dança, / hoje não se faz nada... / hoje tudo é só lembrança"! (ver... https://youtu.be/xUKfaXawc7c )

Pelo visto, se depender do brasileiro atual, não se terá nem mesmo lembranças !

"NATO" AZEVEDO (8/agosto 2018)