P o e m a ç o

Sempre que sinto que o desalento vai dá as caras, me refugio na leitura dos grandes poetas. Um deles é Thiago de Mello (é um dos meus preferidos, o saudoso poeta amazonense). Ezra Pound tinha razão quando disse que os poetas eram as antenas da raça. Uma verdade abissal.

Hoje de tarde, quando me senti um pouco triste, peguei um livro desse poeta (que um amigo me deu de presente em 1983) e li um dos poemas que mais gosto, "Estou Seguro", acho atualíssimo, vou transcrtevê-lo:

"O tanto que me falta para saber amar,/ saber deixar, por exemplo,/ que a minha mão conte à tua, Catharina,/ neste instante cheio de estrelas/ em que abres para mim os teus cabelos,/ a história que aprendi com as águas,/ com os pássaros e com a cordilheira.// Mas sobretudo o muito que nos falta/ para saber ajudar na construção/ do edifício humano da alegria/ - não aprenderei, estou seguro,/ indo às fontes dos clássicos/ (que aliás acabo de ler);/ nem na compreensão científica perfeita/ de tua formação social, miha pátria amada;/ muito menos nessas discussões teóricas,/ que ainda me fascinam tanto, mas já não tanto,/ em que os elegantes cientistas sociais/ se comprazem em transformar/ crianças que morrem de fome/ - são trezentas por minuto/ só na América Latina - / em precioso e químico elemento/ para uma argumentação brilhante.// Não.// Há de ser, estou seguro,/ porque o pouco que aprendi já m ensinou,/ tratando de ser, a cada instante mais,/ um homem capaz de amar,/ capqaz de ser irmão, não só com lindas palavras,/ dos que ainda sequer sabem que o amor é possível/ e que a alegria se reparte como o pão;/ dos que, apaixonados e de escamas nos olhos,/ d~qao o seu trabalho, a sua fome,/ dão o seu domingo e a sua esperança,/ para que a vida, a vida que é tão linda,/ possa ser esta merda/ que me dá, de repente,/ vergonha de cantar".

Um poemaço. Lindo. Inté.

P.S. Não assisti ao debate, as regras e o tempo, além do número de candidatos transforma o debate numa arenga ou rinha de gatos.