GRANDE DETERMINAÇÃO!

Outro dia quando eu passava pela frente do antigo cinema Moderno, presenciei uma coisa que muito me tocou pela determinação com que a adversidade foi enfrentada por uma senhora que aparentava seus setenta e cinco anos aproximadamente.

Terminada a calçada do cinema na direção de quem vai para Avenida Guararapes, bem no meio da rua, estava uma moeda de cinqüenta centavos dando sopa. Uma velhinha bem vestida e ainda bem durinha baixou-se para apanhar a dita cuja. A moeda em questão estava colada ao asfalto, fruto da astúcia dos vendedores ambulantes que ali trabalham e que morriam de ri a cada vez que alguém tentava apanhá-la e saia frustrado. Quando a velhinha tentou apanhar a moeda e não conseguiu, não se deu por vencida e muito menos deu ouvido as gargalhadas dos presepeiros. Sem demonstrar qualquer decepção, ela tirou da bolsa uma tesoura e começou a cutucar a moeda na esperança de retirá-la dali sem ter sucesso. Mas não desistiu, procurou uma pedra e começou a bater de lado da moeda indiferente a multidão que já se formava ao seu redor para acompanhar sua luta pela posse da pataca. Via-se claramente, que além da necessidade que ela tinha de se apossar daquele dinheiro, ele podia quem sabe lhe valer o café da noite, havia naquela simpática senhora a determinação de não ser vencida por aquele obstáculo. O que a princípio era uma festa de risos, passou a ser um problema de todos, ninguém ali presente ria mais da velhinha e todos torciam pelo seu sucesso na empreitada de retirar aquela moeda do leito da rua. Todo mundo de alguma forma tentou ajudar na retirada da moeda. O mais gratificante no meu entender, foi que nenhum dos presentes tentou oferecer a referida senhora uma moeda igual para que ela desistisse daquela tremenda luta. Todos compreenderam que ela não se conformaria em perder aquela batalha, que para ela era uma questão de honra levar a moeda e não uma esmola. Apareceram canivetes, pedaços de pau e outras coisas que se mostraram ineficazes na descolagem do dinheiro. Já se passavam acho eu que cerca de dez minutos, quando o vendedor de coco bateu mão de uma enorme foice, pediu licença para tentar com a sua ferramenta de trabalho solucionar o impasse. Tacou a foice com força na borda da moeda que finalmente se desprendeu do solo e foi bater longe.

Todo mundo correu atrás da malvada na tentativa de recuperá-la e por pouco, muito pouco, a moeda não caiu num bueiro ali pertinho. Um garotinho com a destreza dos jovens, evitou que ela mergulha-se no ralo e solenemente a entregou para a simpática e já querida velhinha, que agradeceu e sem dizer nada, guardou a moeda na bolsa, e debaixo de um intenso aplauso, partiu como se nada tivesse acontecido. Eu e todos os demais presente, retomamos nossos afazeres orgulhosos da bichinha!