O POMBO FERIDO
Desde que Nivaldo nasceu ele sempre ouviu de seus pais sábios conselhos sobre a grande importância de se respeitar e proteger os animais, porque eles são partes integrais da natureza. Por isso Nivaldo passou a ser um incansável defensor dos irracionais.
Sempre que se deparava com qualquer animal em dificuldade, Nivaldo deixava de lado todos os seus afazeres e se entrega de corpo e alma aos prazeres de dar proteção. Já era incontável o número de bichinhos que ele salvou da morte. Sua vida esteve sempre voltada na atenção dos indefesos animais e, por isso, o seu maior desejo era estudar e ser veterinário. Mas, como a vida é cheia de atalhos, ele se transformou apenas num mero motorista de caminhão. E foi exercendo essa sua dígna profissão que ele foi obrigado a presenciar momentos cruciais na vida de muitos bichos que, inocentemente, eram atropelados em ruas, avenidas e rodovias, o que sempre deixava o amável caminhoneiro muito triste.
Sua vida ficou marcada com os conselhos paternais sem que ele encontrasse qualquer obstáculo que o magoasse até o triste dia em que retornava de caminhão para casa. Nesse dia, já anoitecia, quando algo se chocou violentamente no pára-brisa do seu caminhão. Nivaldo parou; desceu, e viu que era um pombo que no asfalto quente se contorcia agoniado. Logo se pôs a socorrer o acidentado com massagem cardíaca e com estiramento de seus membros, mas, percebendo que ali ele não poderia demorar com o caminhão parado, resolveu por em prática ao que sua intuição determinava: deixar o acidentado em algum lugar seguro. Olhou em sua volta e viu ali perto uma linda casa ajardinada, e logo resolveu que lá seria o lugar mais propício e seguro para salvar o pobre pombo. Ele pegou o pássaro em suas mãos, dirigiu-se para aquela casa, e cuidadosamente o colocou sobre a grama do jardim. Depois voltou rápido para o caminhão e de lá ficou olhando atentamente para o jardim da casa. Naquele instante ele ouviu fortes latidos de um cão pastor alemão que estupidamente apareceu no quintal da casa tentando agarrar um gato que pulava o muro levando o infeliz pombo debatendo-se na sua boca.
Nivaldo sofria ao ver um animal em sofrimento.
Mas nessa vida tudo tem seu preço, pois no lugar de um pombo tudo poderia ter acontecido com um racional.