Quem levou fogo ao Museu Nacional?


         Quando se pensava ser o cosmos apenas constituído de ar, terra, água e fogo, vez por outra, um desses elementos, pensados pelos pré-socráticos, sobressaía-se mais do que os outros, então acontecendo mais água nos dilúvios, inundações e tsunamis; mais vento nos ciclones e tempestades; e mais fogo nos raios e vulcões, do então fogo roubado de Zeus por Prometeu para doá-lo à humanidade. Dentre os homens, haja incendiários, seja jogando alguma piola acesa no mato seco do serrado, seja sacudindo aos céus, para cair em algum lugar, balões em chamas.
          O incêndio da Biblioteca de Alexandria, a primeira mais rica e completa reunião dos mais valiosos livros do mundo, possibilitava leituras a filósofos e sábios. Seu incêndio teria sido efeito de algum desleixo com uma lamparina ou causado por fanáticos muçulmanos ou cristãos, que não teriam suportado tantas coisas escritas, consideradas heresias às suas doutrinas. Ainda hoje se indaga quem teria iniciado o fogo dessa tragédia, queimando as prateleiras daqueles preciosos manuscritos, livros de “todos os povos da Terra”.
          Outro incêndio, que gira o mundo e caminha na história, é o de Roma, queimando, de 18 a 23 de julho de 64 d.C., casas, ruelas estreitas e sinuosas dos mais pobres e umas três construções palacianas. Ruiu parte mais antiga da cidade ou do seu patrimônio histórico... Textos da época, versos de Horácio, que se destaca pela sua objetividade sobre tal desastre, deixam-nos a concluir quem foi o protagonista do fato: alegam que as construções em madeira das populares habitações teriam favorecido ao incêndio; uns secundam a linguagem oficial, acusam os cristãos, então perseguidos pelo status quo; e, finalmente, com muita discrição, outros atribuem o feito a Nero, que, desejando embelezar a cidade ao seu gosto, teria planejado destruir os quarteirões feios e fétidos para dar lugar às novas construções. Enfim, aqui e agora, quem levou fogo ao Museu Nacional? As irresponsabilidades ou os irresponsáveis?