Ataraxia

Os pássaros gorjeiam próximos à janela e penso que pode vir chuva. Sigo através do dia com minhas tarefas habituais. Lendo sobre determinado autor, percebo que a ficção nada mais é que a realidade contada e filtrada por outro, que a assina como sua obra.

Penso numa mulher que mora longe, mas que já esteve próxima de mim. Não sinto saudade. Nostalgia talvez. Os lugares e momentos sempre são melhores e mais bonitos em nossas lembranças do que na realidade. Memória seletiva. É involuntário.

A ausência de propósito e significado não me colocam pra baixo. Na verdade, abrem um leque de possibilidades de pensar e re-agir com o entorno. O mundo empírico. A vida como ela é. Sem idealismos. Criar o próprio destino ciente das limitações materiais da natureza, e como já disse o poeta de Sobral, já tenho esse peso que me fere as costas, e não vou eu mesmo atar minha mão.

Agosto passou como sempre, agourento e amargo. A primavera de setembro não promete muito, mas renova a esperança. Coisa humana, essa tal de esperança. Cortázar dizia que era a própria vida defendendo-se. Não morre, agoniza.

Às vezes é preciso conter o humor ácido e o sarcasmo para não ser mal interpretado e nem ofender a quem estimamos. Nem toda verdade deve ser dita. Pelo menos não em voz alta. Colóquios são mais uma interação social que uma real troca de ideias.

Saio para uma pausa para o cigarro. Mudando o pensamento de lugar, vejo as coisas de outra perspectiva. Parece que saiu um filme espanhol bom esses tempos. E não é que empatamos fora de casa ontem?

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 11/09/2018
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