Vale a pena viver (reeditado)

Não havia outro jeito, passei uma noite inteira na enfermaria, meu irmão teve uma internação inevitável, no hospital o lugar ideal para descobrir uma intrigante infecção que ainda estava sem um diagnóstico preciso.

As horas pareciam intermináveis, para quem não conseguia dormir numa simples poltrona, num quarto com 5 pacientes, pelo menos dois deles eram mais impacientes, os outros eram pacientes normais, incluindo meu irmão.

Dos pacientes impacientes havia um que necessitava de ser amarrado na cama, notei que suas mãos agitavam sem parar, tentando desvencilhar das amarras que foram cuidadosamente feitas para não machucá-lo, mas em certo momento da noite vi que ele estava com suas pernas quase fora da cama, ia ficar dependurado, porque as mãos continuavam amarradas, comuniquei o enfermeiro de plantão, que logo teve de aprumá-lo novamente na cama e amarrando também suas pernas. As alimentações e os remédios eram ministrados carinhosamente, pelos importantes funcionários de branco e pelo menos para este doente era complicado, ele simplesmente recusava quando tentavam colocar em sua boca, mas com muito tato, o objetivo se conseguia.

Um outro paciente numa cama, mas bastante consciente, exaltava o enfermeiro que fez aquela proeza:

--- Vocês são demais, é preciso muita paciência!

--- Faz parte do nosso dia a dia. (respondeu o enfermeiro na maior naturalidade)

Havia outro paciente impaciente, que também não era fácil, um velhinho que resmungava sem parar, o interessante é que numa certa hora, seu celular toca sem parar, ele não conseguia atender, não tinha aquela habilidade natural de manuseio deste corriqueiro objeto de comunicação de nossos dias (coisa que eu também não tenho a mínima habilidade, aliás não tinha, agora entendo mais ou menos, eu nem pensava que um ia possuir celular com watzaap) o velhinho só ficava assim:

--- Alô... alô... e nada de resposta, um outro paciente gritava: -- aperte a tecla tal! Mas nada, só ficava no alô, salvação dele que o enfermeiro pegou e atendeu, lhe passou o aparelho dizendo ser sua filha que estava no Rio de Janeiro, (imagine e o velhinho estava no hospital em São Lourenço de Minas Gerais!...)

Passado alguns dias, meu irmão sai restabelecido daquela maravilhosa casa de saúde, o velhinho eu soube que colocaram no asilo, naturalmente curado de sua enfermidade, agora o outro que necessitava de ser amarrado, faleceu.

E eu fiquei imaginando este mundo parece estranho, algumas vezes dá a impressão de que o amor entre as pessoas está se esvaindo, mas depois de ver tanta dedicação pelo menos naquele hospital, tanto dos médicos, enfermeiros e funcionários em geral, vi que vale a pena viver, mesmo sabendo que um dia vamos morrer, mas o amparo destas pessoas vestidas de branco, nos dá um colorido a mais neste nosso viver!...

21/10/2012

E o tempo continua passando, passando, agora em pleno 2018...

Mas quer saber?

Ainda vale à pena viver!...