ÀS VEZES, É SÓ VONTADE DE COLOCAR A ALMA NO VARAL E QUE ELA DESCANSE E VOLTE COM TUDO DEPOIS DO CARNAVAL - de Raul Franco

Às vezes, a gente sente um cansaço. Um cansaço na alma. Como se ela pedisse arrego, pedisse um sopro de paz, uma trégua naqueles dias que você não entende nada e só quer voltar a ter leveza.

Nossa alma pode doer. Doer fundo onde ninguém sabe. Porque nossa alma pode se disfarçar naquele sorriso para aquela foto que irá ser postada nas redes sociais. Pode dizer, sem força: “Está tudo bem comigo”, quando nada faz sentido.

Ontem li aqui no face um post de uma garota, falando da sua luta para vencer as crises de pânico e sobre uma tentativa de suicídio. Antes ela alertava sobre a dificuldade de se expor, mas queria compartilhar a história. E disse que, dentre as coisas que tem lhe ajudado, uma delas foi ter sido levada até o Budismo do Nichiren Daishonin e praticado o daimoku, que é a recitação contínua do nam-myoho-rengue-kyo. Eu mesmo sei o quanto isso ajuda. E me peguei pensando profundamente nessa garota, no quanto a alma dela deve estar doendo, no quanto ela queria se sentir bem. Porque todos nós, independente da idade, estamos em processo de busca. Muitas vezes a vida vai ser dolorosa demais, em outras, vamos sorrir com força e vamos agradecer por estarmos vivos. A luta é seguir, compreendendo que tudo vai passar: alegrias, tristezas, sucessos, fracassos. A vida segue sempre em frente e suportar a dor na alma é o que pode nos fazer fortes.

Atualmente eu tenho a seguinte política: ao pensar em entrar em uma relação, de amizade, amor, ou mesmo entrar em uma discussão, faço-me a seguinte pergunta: “O que isso vai ajudar na minha saúde?”. Se a resposta for positiva, vou em frente. Senão, recuo sem pestanejar. Porque nós somos responsáveis pela energia que lançamos e que, consequentemente, vai voltar para nós. Parece tão simples entender essa dinâmica, mas é um aprendizado que requer lucidez e tempo para entender a lógica profunda desse mecanismo.

Outra situação que me deu mais um material para reflexão. É sobre um conhecido colunista, especializado em “fofoca”, em publicar coisas em primeira mão sobre a vida íntima dos artistas, o que se chama de “furo”. O curioso é que há um mercado ávido por esses assuntos. Pois bem, sempre pensei na vida desse colunista. Porque ele vive em meio a processos, a trocas de farpas, a xingamentos de quem tem a sua intimidade revelada. Acompanhei algumas dessas discussões via redes sociais e pensava: “Será que vale a pena suportar tudo isso? Vale a pena atrair essa energia para si? Será que todo dinheiro paga essas possíveis chateações?”. É como se você vivesse em alerta, esperando alguém ir até você com toda raiva do mundo, acionando o dispositivo do strees, do pânico. Enfim, agora, recentemente, o colunista afirmou ser dependente químico de cocaína. Uma coisa bem triste. Porque a cocaína existe pra te transformar em um deus momentaneamente, um herói. Pra te dar super-poderes. O problema é o depois, quando passa o efeito. E eu posso falar muito bem disso. Não foi à toa que Renato Russo cantou em uma canção: “Parece cocaína mas é só tristeza”. Ou seja, se procuramos droga é porque nossa alma pede socorro. Nenhuma pessoa extremamente feliz vai buscar droga. Onde há droga, há infelicidade. Há uma alma, carecendo de um varal para repousar. Minha alma já buscou muito esse varal. Já buscou esse alívio. E eu fui em frente, tentando vencer qualquer vício que me tirasse a paz.

Sim, viver é um processo. Um grande aprendizado. Nossas almas em alguns momentos parecem perfuradas por balas, esperando um abraço, um afeto, para remendar tudo novamente. Todos nós queremos atenção, ser ouvidos, saber que temos alguma importância na vida de alguém. Hoje acho assustador quando alguém tira a própria vida, quando alguém não suporta o peso do existir e comete tal ato. E é uma discussão muito importante neste mês da campanha do Setembro Amarelo que busca alertar sobre o suicídio. Porque nos assustamos quando alguém pula de um prédio, como se não entendêssemos o porquê. Mas, no fundo, sabemos muito bem. Todos nós podemos nos transformar em pedra no muro de alguém, quando somos indiferentes, quando negamos atenção, amor, diálogos. No entanto, podemos também ajudar a quebrar esse muro e libertar alguém, se formos todo coração.

No fundo, o aprendizado é saber a hora de se retirar, de pegar um pouco de ar. De saber-se inteiro, tendo a força que você precisa cultivar. É preciso entender o que você é realmente para não aceitar menos, não aceitar prisões como se fossem bons sentimentos. A vida é um córrego, devemos ter clareza de como vamos navegar. Não há mal em querer apenas deixar a alma em um varal, nem que seja por uma noite, um mês, um ano. O importante é lutar e vencer. Porque hoje não vamos pular, deixa isso pra nunca mais.

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 21/09/2018
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