VENDI BANANAS NA FEIRA DE DIAS D’ÁVILA.

VENDI BANANAS NA FEIRA DE DIAS D’ÁVILA.

Por volta de 1982, deixei a Marinha de Guerra e o Rio de Janeiro e voltei para minha terra com o propósito de organizar meu povo para a luta pela emancipação de Dias d’Ávila, à época, distrito de Camaçari,cidade considerada área de segurança nacional e, por conta disso, comandada por um prefeito biônico, indicado pela governo da ditadura que se instalara no Brasil com o golpe militar de 1964.

A Estância Hidromineral de Dias d’Ávila, famosa pelas suas águas medicinais, estava em ruínas porque a prioridade, na época, era o Pólo Petroquímico de Camaçari, que, com toda riqueza e importância que chegou, começou por acabar com a nossa vegetação nativa, destruindo os nossos rios e dizimando completamente a nossa fauna (hoje é mais fácil ver passarinho cantando no bairro da Pituba, em Salvador, do que em Dias d’Ávila).

Cheguei à minha terra com mulher e três carioquinhas. Na nossa casa nos habituamos a comer, cada um, uma banana prata antes do café da manhã. Até hoje se falta a banana é como se não tivéssemos nada para comer.

No Rio de Janeiro, na feirinha semanal do bairro, o feirante contava tantas dúzias de bananasqueríamos, e aquelas que sobravam na penca ele dizia que podíamos levar “para dar ao gato”. Era uma enorme gentileza e forma inteligente de manter a fidelidade do cliente. Em Dias d’Ávila, diferentemente, comprávamos dúzias de bananas e, uma que passasse, era arrancada da penca. Aquilo me incomodava muito e eu pensava sempre numa forma de dar uma lição naquele povo.

Até que um dia quando ia trabalhar em Salvador, passando por dentro da cidade de Simões Filho, para ver a minha irmã mais velha, deparei-me com um caminhão carregado até às alturas, de bananas que eram levadas para serem vendidas na CEASA. Interceptei o caminhoneiro e terminei por comprar o caminhão de bananas, que mandei descarregar no meio da feira em Dias d’Ávila.

No dia da feira, lá estava eu vendendo bananas pelo preço de vinte cruzeiros, um quarto daquele cobrado pelos meus concorrentes. Passei um mês perturbando, e quando eles achavam que minhas bananas tinham terminado, comprei outro caminhão da fruta.

Até hoje quando,na feira, reclamo de algum preço abusivo, costumo dizer: não se esqueçam dos caminhões de bananas.

Justino Francisco dos Santos

Escritos. Em 15.12.2013.

Justino Francisco
Enviado por Justino Francisco em 23/09/2018
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