A Síndrome da Besta do Nilo

Um dos inúmeros adjetivos que a imprensa usava para se referir ao ditador de Uganda, Idi Amin Dada era a “Besta do Nilo”; uma referência ao caudaloso rio que corta a África a nordeste. O homem era cria do Exército Britânico, ao qual servira fielmente até atingir o posto de tenente. Após a saída dos britânicos de seu país, chegou à patente de Major General tornado-se comandante do Exército. “Empoderado”, deu um golpe de estado em 1971 tornando-se presidente vitalício da frágil República.

Para governar, Amin adotava táticas incomuns, segundo a imprensa. Ele consultava oráculos revelados por um xamã animista e, a partir daí, tomava decisões. Prendia, torturava e matava oponentes e até companheiros dos quais levantava as mais absurdas suspeitas.

Uma de suas vítimas, segundo especuladores, foi um de seus 40 filhos chamado Moses que após morto foi devorado pelo pai.

Seu governo foi marcado por serias violações dos direitos humanos, apesar de ter conquistado assento na Comissão de Direitos Humanos da ONU por um curto período.

Algumas atitudes, nesses dias nervosos que antecedem as eleições, estão tornando homens e mulheres tão afoitos quanto a Besta do Nilo.

Pessoas consultam oráculos, de todo tipo; um grupo em especial, vale-se dos conselhos misteriosos dados por indivíduos que se apresentam como “os profetas”; na verdade comportam-se como Balaão (o mais famoso falso profeta do Velho Testamento, que segundo a Bíblia, “fazia o povo tropeçar”), que nunca se esquecia de cobrar o seu preço. Os atuais, tal qual o antigo, orientam a clientela com meias verdades e muitas mentiras ditas com toda “autoridade” que o “título” lhe confere e “passe pra cá o meu bocado”.

E a história se repete. Os Balaões modernosos incitam o povo numa mistura de ‘máximas religiosas’ com ‘desejos populares’ por uma justiça sem justiça, um verdadeiro vale tudo de aturdir pugilistas; as contradições são acomodadas num “monstrengo filosófico” de pasmar alucinados. Deus, família, Pátria, tortura, discriminação e morte cabem no mesmo cadinho, não necessariamente nessa ordem.

Desafetos e discordantes são logo classificados como, “satanistas”, “socialistas”, “apologistas de excentricidades sexuais”, “comunistas” e etc.; isso por gente que nunca leu Marx, Smith ou mesmo Gay Talese, portanto, pouca ou nenhuma noção tem de que “bichos seriam todos esses adjetivos” .

Bastou a revista The Economist, maior porta-voz do capitalismo, criticar o plano de governo do candidato para receber a alcunha de “comunista dos infernos”, mesmo destino do NYT, que também criticou.

Quando acometidos pela “Síndrome da Besta do Nilo”, tal qual o famoso ditador, algumas pessoas seriam capazes de prender, torturar e devorar interlocutores que não comungam do mesmo pensamento. Se pudessem devorariam os próprios filhos, que se opuserem a ideia fixa.

Raul Correa Barcelar
Enviado por Raul Correa Barcelar em 25/09/2018
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