Sessenta e poucos...



Às vezes penso que morri um pouco por dentro.
Olho no espelho e percebo que já não trago em mim o mesmo brilho de antigamente.
É a constatação, inexorável, de um processo natural da vida!
Nascer, viver, tornar-se adulto, envelhecer é algo tão grandioso, que somente aqueles que sabem o que é gratidão, podem realmente apreciar o valor da vida, agradecer as maravilhas de Deus e os presentes que recebemos de Suas sagradas Mãos nessa longa caminhada.
Chamo isso de ”o milagre do amor”.
Somente o Pai Maior é capaz de manter essa chama viva e acesa em cada um de nós.
Foram muitos tropeços e atropelos!
Quantas vezes caí e levantei-me sozinha, diante das incansáveis batalhas que travei pela própria sobrevivência.
Nunca pensei que pudesse chegar até aqui. Mas, quem decide é Ele, o meu Deus e Senhor de todos os exércitos.
Chegar aos sessenta e poucos anos me traz uma enorme satisfação!
Uma gratidão imensa ao Pai, por poder estar aqui, agora, refletindo sobre tudo o que já vivi nesse tempo.
Ah! Foram tantas lágrimas, tantas quedas e acertos, porém não desisti, embora ao olhar para trás, ainda vejo marcas e recordações tão sofridas e difíceis de entender.
No entanto, sei que todas valeram muito a pena, pois sem elas o que eu iria contar dessa vida?
São meus presentes, as tantas histórias de vida, construídas a ferro e fogo.
Acaricio o rosto e sinto cada expressão que o tempo deixou.
As lágrimas que tanto enxuguei, sem um colo, uma mão amiga, um abraço qualquer, sozinha, no silêncio do meu pequeno espaço de dormir, único que me acolhia, quando a dor era insuportável.
Naqueles tempos, encolhia-me toda dentro de mim mesma, num soluço constante. Meus gemidos poderiam ser confundidos com os sons emitidos por grilos e corujas. Faziam parte das noites em que vivi.
Hoje, ao contemplar meus muitos cabelos brancos, e ter conseguido chegar até aqui, tenho a certeza de ter conquistado um mundo que jamais esperei conhecer.
Já é quase outubro e poderia ser um mês qualquer.
Mas é o tempo em que conto mais um ano de vida, sem dúvida, o maior presente que Deus me proporcionou.

Olho no espelho e percebo que já não trago em mim o mesmo brilho de antigamente.