Estrelinha

Sou descendente de duas famílias de fazendeiros do estado do Piauí. A minha família paterna era do município de São João do Piauí e a minha família materna era de Bom Jesus do Piauí, que vieram para Floriano para colocar os filhos para estudar. E foi aí que os meus pais se conheceram e depois casaram-se. Tinha um costume entre as duas famílias que a cada neto que nascesse os avós dariam uma garrota. E se fosse o primeiro neto cada avô daria duas garrotas. Como eu fui o primeiro neto da família materna ganhei duas garrotas do meu avô materno e uma garrota no meu avô paterno. As garrotas do meu avô materno ficaram em uma das fazendas dele no município de Jerumenha e a do meu avô paterno como uma de suas fazendas ficava próxima da fazenda do meu pai foi levada para lá. Uma garrota laranja com uma estrela na cabeça. (que logo foi batizada de estrelinha) Naquele tempo o gado era criado solto nas chapadas e ficava bravo difícil de pegar. A estrelinha foi criada solta em uma dessas chapadas e como era pé duro (raça de gado nativa aqui no Piauí muito resistente) quando veio dar à primeira cria foi lá pelos cinco anos. Ela só paria de dois em dois anos e só paria macho. Quanto eu tinha por volta de dez anos já tinha boi para vender. Como eu não tinha despesa com nada tudo era o meu pai que me dava, ele vendia os bois e comprava garrotas ou novilhas para aumentar o gado. O meu pai resolveu cercar a fazenda, pois o gado estava ficando muito bravo e também estavam roubando. Cercou mais de 1000 Há e começaram a pegar o gado para colocarem preso dentro da solta ( cercado grande). O gado para beber no rio tinha que passar por dentro do curral. Assim facilitava para pegar e também para lamber sal que amansava o gado. A estrelinha como era muito brava foi uma das últimas a pegar. Quando a colocaram na solta a deixaram com chocalho que era para localiza-la com mais facilidade e um cambão (pedaço de pau amarrado com uma sola no pescoço que ficava pendurado entre as mãos para dificultar a o animal a correr). Ela passou mais de 20 dias sem beber. Quando chegava ao pátio da fazenda que via gente voltava correndo e não bebia. Foi preciso deixar uma cancela aberta a noite para que ela passasse sem ver ninguém e fosse beber no rio até que se acostumasse a descer junto com os outros gados, mas sempre desconfiada. E a estrelinha é a responsável por eu está aqui hoje contando essa história. Pois foi com o dinheiro da venda de um boi filho da estrelinha que eu comprei o meu primeiro violão. Quando eu tinha meus 17 anos e já tinha as minhas necessidades que todo adolescente tem o meu pai começou a me entregar o dinheiro dos bois, vaca velha ou novilha manina (que não pariam) para que eu fizesse o que quisesse com ele. Aí eu tive que enfrentar um problema. A minha família paterna muito conservadora e preconceituosa não queria que eu tocasse violão. Diziam que quem tocava violão era vagabundo, cachaceiro e não queria nada com a vida. Mas eu comprei assim mesmo o meu violão, comecei a tocar e a compor. E foi através da minha música que eu descobrir que o que eu fazia era poesia. E gostei de escrever e hoje sou chamado de poeta.

José Paraguassú
Enviado por José Paraguassú em 05/10/2018
Reeditado em 16/10/2018
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