A dança do medo
A dança do medo
Precipitei-me na afetividade para com os outros e só levei porrada. Estamos, talvez, na era de Nietzsche, a era do Super-homem? Frios estamos e caminhamos 2000 mil anos de labirinto, sobrevivemos à idade das sombras, superamos a guilhotina crudelíssima do tempo fabricando o “homem de laboratório”. Entretanto ainda nos resta o racismo e tudo aquilo que compreendíamos por afetividade, para nos fazermos solidários, foi-se ao degelo na velocidade da busca de algo que se nos escorreu pelos dedos: somos o que somos e nosso alterego esqueceu-se do mais fraco.
Encaremo-nos nos olhos. Somos seres concluídos? Diria um cientista que, na escala da evolução, sim. Mas se nos compararmos com uma rã? Sim, somos muitos e muito mais que simples rãs de laboratório. Isto eu, um leigo, digo, não sei se a ciência ou um cientista diria o mesmo. Não sei se aquele que finge dirigir uma sociedade diria o mesmo (não diria no palanque) porque necessita do voto do analfabeto.
Encararam-se nos olhos? Então, ao contrário do que foi dito, chegaram a conclusão de que somos filhos do medo. Dançamos a dança do medo. “Cheiramos flores de medo”, disse Drummond. Certo é que estou com os realistas que vêem nos seres apenas aquilo que eles representam. E não me deixo embriagar pela estúpida infâmia em afirmar mentiras porque, em verdade, tudo nesta Vida esta bom enquanto tudo caminha ao pé da Cova. E escuto por todos os lados enquanto a chuva cai: “O que fazer com a violência desenfreada no Rio de Janeiro e com as poucas políticas públicas do país?” Escuto essa frase feito um tambor em meus ouvidos em ritmo desordenado. Eis a tua tão sonhada sociedade Pós-moderna. Eis que tua esmola dada a um enfermo representa a tua “salvação”. Eis que nossos filhos estão crucificados em cada esquina, morrendo de uma excessiva dose de cocaína. Eis a tua gama de corruptos políticos aqui outros milhares ali... E mesmo assim, tu ligas a TV e te contentas em ver, no entreter dum fim de semana, um piegas sensacionalista a jogar dinheiro ou uma turma “Big Brother” que nada faz a não ser promover intrigas entre si. Mas prefiro reler Dostoievski a assisti-los e quando os assisto tento não encontrar em suas personas uma resposta menos fedorenta para a psique humana, a fim de não os ver no futuro, feito “certas velhinhas que andam rondando enterros preferindo certos cadáveres a outros”. Acharam estranha a comparação?...
Por fim, compreendo que em toda e qualquer época da humanidade nunca foi fácil garantirmos um lugar ao sol. Mas, antes que eu me esqueça, creio que nasci postumamente.