Narradores de Javé: Memória, Oralidade e História

O filme “Narradores de Javé” traz em seu contexto os conflitos da memória, promovendo em sua narrativa, o confronto de ideias, um processo de formulação da história a partir de inúmeras histórias transferidas e contadas através da oralidade, por vários sujeitos que vivenciaram a formação e construção da cidade de Javé.

Percebemos a dificuldade do personagem “Zé Biá” para a elaboração da história de Javé; se deparando com diversas histórias de um mesmo local, ou seja, de Javé, dificultando sua compreensão e assimilação de tal contexto.

Através da análise do filme, deparamos com outra problemáticas com relação a subjetividade histórica, pois cada indivíduo queria contar a sua história com objetivo de retratar o que era importante para ele próprio, não se preocupando com a história de Javé.

O próprio título do filme nos leva a uma compreensão da função do historiador dentro do processo histórico; na condição de historiador devemos fazer a narração dos fatos e acontecimentos, buscando a veracidade dos mesmos, assim afirma Michelet (1992), pois o historiador deve tem por base a investigação da “verdade”.

Destarte, é preciso compreender que para construir a história de um local, de uma cidade ou de uma nação, devemos analisar os diversos discursos. O personagem “Zé Biá” representa muito bem o papel do historiador, o qual deve ter como objetivo a narração dos fatos relevantes para o contexto histórico. A história é um processo que parte da individualidade para a coletividade. Entretanto, a história de um local legitima-se a partir de uma memória coletiva de um “povo” ou nação.

Nesse ponto, cabe citarmos a memória, a oralidade como os principais elementos na difusão da cultura africana e indígena. Mas infelizmente a memória histórica em muitos momentos é silenciada ou esquecida. Construindo uma história do alto; esquecendo-se da história de baixo.

Porém para tornar possível a difusão da cultura e da memória africana e indígena; os griots, os pajés e os anciões eram e ainda são fundamentais na transferência do conhecimento, da sabedoria e dos ritos de seus ancestrais. Os griots tinham como missão transferir esse saber para a juventude, com objetivo de não perder a história. Assim fica claro que o trabalho da memória e da oralidade se funde como algo primordial na cultura do povo africano e indígena.

Estudar em sala de aula os griots, trabalhando de forma prática com a diversidade cultural da humanidade, não se atende somente a um discurso de igualdade entre todas as culturas. Concretizando o verdadeiro entendimento da diversidade cultural, fomentando rupturas com o etnocentrismo e o marco entre os povos desenvolvidos e os subdesenvolvidos.

A implementação da lei 10.639 será lenta, mas o seu objetivo trará informações e conhecimentos estratégicos para a compreensão, e o combate ao preconceito e a discriminação racial nas relações pedagógicas. Apresentando-nos os elos “pedidos” da História Africana e Indígena, rompendo com etnocentrismo, com os estereótipos; apresentando a origem, as ramificações e os processos de sedimentação de uma identidade etnocentricamente moldada diante do olhar do outro.

No prisma da análise podemos afirmar que o historiador não deve ser parcial, buscando os vários ângulos de uma mesma discussão, pois a história pode ser narrada por vários vieses e por diferentes perspectivas.

Portanto, o historiador deve promover um trabalho, de resgate da história, absorvendo os diferentes discursos de um mesmo acontecimento, chegando a uma conclusão onde se investiga o todo em uma perspectiva coletiva de diferentes versões de um mesmo fato. Na história não há uma “verdade pronta e acabada” suas estruturas pautam-se em um longo processo de transformação e renovação.

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 15/10/2018
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