Tarde demais para expectativas

Sejamos francos, todos sem exceção (a não ser os que possuem alguma disfunção) esperam algo da vida. Esperam mais do que lutam. Mesmo vencendo aqui e acolá, realizando algo positivo, sobrevivendo bem, até enricando, sempre se espera algo mais da vida, a realização daqueles sonhos entranhados na alma, as tais esperadas que apelidamos de perpectivas, aquele desejo e esperança de concretizar aquilo que foi nosso sonho maior.

Na verdade, ninguém se realiza plenamente. Repito: ninguém. A acomodação, a nostalgia do sonho, o conformismo é natural. Seremos todos conformados? De certa forma sim. O grande problema é quando a espera vira obsessão e quando realmente a ficha cai, quando se troca o sonho por indignação, desesperança.

Tudo bem, esse tipo de realidade forçada faz parte do show da vida. Não se pode forçar a barra, há um momento que temos qe nos conformar. Afelicidade é complicada, principalmente quando almejamos algo fora do nosso alcance.

Estava lendo um romance ótimo (o melhor romance que li este ano), "O Trânsito de Vênus", de uma escitora australiana, Shirley Hazzard, escritora maior, arretada, quando li uma fala de um personagem e achei uma verdae abissal:

"- A princípio existe algo que se espera da vida. Mais tarde, há o que a vida espera de nós. Quando chega a época de percebermos que são a mesma coisa, pode ser tarde demais para expecativas". Bingo.

No mais, precisamos ser mais modestos nas nossas expecativas e sonhos, melhor apenas viver, viver e deixar os outros viverem, em paz, sem volência e sem encucações, rspando o cororó da paneça da vida e, quem sabe, cantarrolando o sambinha de Zeca Pagodinho: "Deixa vida me levar/ vida leva eu...". E priu. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/10/2018
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