ANGÚSTIAS JUVENIS

ANGÚSTIAS JUVENIS

"Para que chorar o que passou, / lamentar

perdidas ilusões / se o ideal que sempre

nos acalentou / renascerá em outros

corações" - LUZES DA RIBALTA (trecho)

de ANTÔNIO ALMEIDA / João de Barro

Ideais raramente são coisas de jovem, digo, de meninas e meninas abaixo dos 16, 17 anos... antes disso os anseios são camisetas e/ou tênis de marca, uma mochila escolar "maneira", um casaco de couro ou "jeans" "descolado", namorada ou namorado bonito... eu quase uso o plural, que os tempos são outros. Pobre ou rico, ou melhor, classe média -- os ricos reais são muito controlados pelos pais, não dão 1 passo sem ordem deles -- no meu tempo só queria tênis americano (os ALLSTARS de cano longo eram o máximo) -- e camiseta Hang'Ten, as da Waikiki com imagens de surf ou rock e as de malha do "jacaré", das "raquetinhas" ou dos "pezinhos". Além da praia, só mesmo cinema entre os rapazes e calças "lee" de cintura muito baixa -- as "cocottes" ou "cocotas" -- acentuando as protuberâncias carnais das jovens e acelerando os batimentos cardíacos de quase todos, dos pais inclusive.

Os anos 60/70 se foram e a juventude dos 90/2000 só queria saber de videogame... as meninas nem imagino com o que sonhavam. E chegamos aos tempos de "bunda de fora", cuecas aparecendo até entre adultos -- os tais "cofrinhos" -- uma coisa pavorosa, jamais imaginada 3 décadas atrás. Do que gosta o jovem atual ?! Me parece que de música, coisa comum às demais épocas, mas música ruim num volume absurdo, cheia de palavrões e onde a imagem da mulher é quase a de prostituta.

Nós gostávamos de rock -- nacional, nem pensar! -- música selvagem num tempo de rebeldia explícita. Os de 80/90 se ligaram na MPB, "curtiram" Bandas nacionais de todo tipo e "enterraram" o rock, para sempre, a meu ver. Houve "tribos de heavy metal", mas de pouca expressão e o país "naufragou" nas ondas a-bundantes (?!) do funk, rap, house e "quejandos", fase iniciada pelo "É o Tchan" e pela "estranha" "Lacraia", com sua dança "macumbada" em velocidade 5 !

Mas onde ficam os ideais dessa juventude toda, atual, moderna, que nem sabe o que é "ser careta" ? Achava eu que sequer tivessem, contudo acabo de encontrar uma caderneta "Diário do Estudante" -- o machismo não acabou, pelo menos nas Gráficas -- da jovem Brenda ou Bruna, sua letra é quase ilegível. Dentre as profissões que pretende seguir está a de atriz, de cantora (?!) e até diretora de filmes, além de jogadora... de 3 esportes diferentes. Acharam muito ?! Pois deseja "montar 1 Ministério" -- não o de Brasília, este é religioso -- mas para isso terá que economizar um bocado, para poder trocar seu violão, comprar 1 teclado, fazer roupa de dança, curso de culinária, de espanhol, esporte, fazer o cabelo, estudar violão e ser dizimista... tudo isso em fevereiro.

Há mais planos, para março: comprar roupas, sapatos, começar a fazer esporte, teatro e dança e renovar a carteirinha do Clube. Fico por aqui para não invadir a intimidade da menina, que jogou fora seu "Diário" com os telefones (e, em alguns casos, com emails) de meia família, um descuido absurdo nos nossos dias. Espero que a jovem tenha realizado algumas coisas, admirando sinceramente seus objetivos em época tão conturbada e avessa a planos, ideais e sonhos.

"A Vida passa, qual trem"... disse eu numa trova e, nesse imutável cenário que é o Mundo, cultivar ideais e esperanças nos anima a prosseguir. Desde o longínquo 2008 até hoje a menina Brenda (ou Bruna) percorreu longo caminho, no qual as decepções não foram poucas. "Estamos TODOS no mesmo avião" me afirma o amigo virtual Sérgio Spisla, no Facebook, e pouco nos serve "torcer contra" o piloto, no caso um despreparado e "desastrado" que se diz "capacitado por Deus". Aos 66 anos e tanto já estou "pronto" para falar com Êle... me preocupa as MILHÕES de Brunas e Brendas vivendo num país onde sonhos tão simples não possam ser realizados, enquanto os PATIFES de sempre se esbaldam em Brasília ! Até quando ?!

"NATO" AZEVEDO (em 3/nov. 2018)