A insustentável “humanidade” da Esquerda

A era da tomada do poder através da força já se foi. Na atualidade utiliza-se o recurso do voto para se implantar ditaduras disfarçadas de democracia.

Obviamente para se chegar ao poder via voto é necessária uma base de sustentação e na América Latina, onde os pobres ainda representam a maior parcela da população, é fundamental se manter fidelidade de eleitores nessa camada.

Nas camadas mais pobres da Sociedade é onde se situa os “novos proletários” tão essenciais para o empenho “humanitário” do Pensamento de Esquerda, que continua na sua eterna tarefa de levá-los ao triunfo na luta contra seu oponente, a burguesia.

As sociedades evoluíram. As atuais em nada se assemelham com as da época que Karl Marx elaborou sua teoria de luta de classes.

O proletariado moderno gosta do Capitalismo e não está disposto a se envolver em nenhuma luta de classes. Sua preocupação é progredir no ambiente de trabalho para aumentar seus rendimentos.

Com isso, o Marxismo teve que procurar um proletariado alternativo para continuar com sua “luta de classes” sem a qual não haveria razão para sua existência.

Quando Karl Marx estabeleceu a teoria da luta de classes, a sociedade da época foi dividida em três camadas principais ou classes: a burguesia, o proletariado e o lumpen-proletariado.

A expressão lumpen-proletariado (do alemão lumpenproletariat) foi criada por Karl Marx e Friedrich Engels para definir a camada da população que não se enquadrava na definição normal de proletariado. Lumpen em alemão significa “trapo ou farrapo”.

No Manifesto Comunista, Marx e Engels expressaram a dificuldade de engajar o lumpen-proletariado no processo revolucionário: “O lumpen-proletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade, pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se do que à reação.”.”

No seu “O 18 de Brumário de Louis Bonaparte”, Karl Marx faz uma análise detalhada, e um tanto confusa, dos acontecimentos revolucionários na França no período 1848-1851. Como não podia deixar de ser, Marx desenvolve suas teses do materialismo histórico, relacionando os eventos do período citado com a teoria da luta de classes e da revolução proletária, a doutrina do Estado e da ditadura do proletariado.

Luís Napoleão ou Napoleão III foi o primeiro presidente eleito da França, mas impedido de continuar no poder pela constituição francesa, organizou um golpe de estado em 1951 e reassumiu como imperador do chamado Segundo Império Francês.

No capítulo V da sua obra “O 18 de Brumário de Louis Bonaparte”, Marx descreve uma artimanha de Luís Napoleão para tomar o poder:

“A pretexto de fundar uma sociedade beneficente o lúmpen-proletariado de Paris fora organizado em facções secretas, dirigidas por agentes bonapartistas e sob a chefia geral de um general bonapartista. Lado a lado com roués decadentes, de fortuna duvidosa e de origem duvidosa, lado a lado com arruinados e aventureiros rebentos da burguesia, havia vagabundos, soldados desligados do exército, presidiários libertos, forçados foragidos das galés, chantagistas, saltimbancos, lazzarani, punguistas, trapaceiros, jogadores, maquereaus, donos de bordéis, carregadores, líterati, tocadores de realejo, trapeiros, amoladores de facas, soldadores, mendigos - em suma, toda essa massa indefinida e desintegrada, atirada de ceca em meca, que os franceses chamam la bohêmne; com esses elementos afins Bonaparte formou o núcleo da Sociedade de 10 de Dezembro."Sociedade beneficente" no sentido de que todos os seus membros, como Bonaparte, sentiam necessidade de se beneficiar às expensas da nação laboriosa; esse Bonaparte, que se erige em chefe do lúmpen-proletariado, que só aqui reencontra, em massa, os interesses que ele pessoalmente persegue, que reconhece nessa escória, nesse refugo, nesse rebotalho de todas as classes a única classe em que pode apoiar-se incondicionalmente, é o verdadeiro Bonaparte, o Bonaparte sans phrase. Velho e astuto roué, concebe a vida histórica das nações e os grandes feitos do Estado como comédia em seu sentido mais vulgar, como uma mascarada onde as fantasias, frases e gestos servem apenas para disfarçar a mais tacanha vilania.”

Na expressão ‘tacanha vilania”, Karl Marx mostra veemente repúdio a atitude de Luís Napoleão, mas intencionalmente ou não, com seu dom de alquimista, deixa registrada uma fórmula que seria usada por futuros candidatos a ditadores para se elegerem e se perpetuar no poder.

Hugo Chávez testou com êxito a fórmula de Marx, que depois serviu a Nicolás Maduro e a Esquerda Brasileira.

Como afirmei acima, o proletariado moderno “não está nem aí” para as teorias de Marx/Engels, ele só quer trabalhar e poder sobreviver e, se possível, viver bem, por isso, os partidos de Esquerda tiveram que encontrar um proletariado substituto.

O atual “movimento revolucionário de Esquerda” é composto de uma elite intelectualizada, geralmente funcionários públicos e ativistas que recebem alguma subvenção do Estado, como os artistas por exemplo, que dão o suporte “pedagógico” ao ativismo de Esquerda, e o que Lula e outros costumam tratar como “povo”.

O termo “Povo”, na concepção original, se refere ao conjunto de habitantes de um país, mas na visão da Esquerda é toda a massa de indivíduos que sofrem de alguma carência material que pode ser de alguma forma remediada pelo Estado, na forma de programas assistencialistas e também de leis que são promulgadas mais para satisfazer ambições de grupos do que para promover a ordem social.

Então o “povo” que a Esquerda costuma exaltar é na realidade o disfarce para o novo lumpen-proletariado. São os subempregados, desempregados, trabalhadores de salário mínimo, negros pobres, mulheres pobres que sofrem violência física, menores infratores, delinquentes contumazes, usuários de drogas de baixo poder aquisitivo, as chamadas “minorias”, potenciais invasores de propriedades, etc., enfim todos que podem em algum momento trocar seu voto por alguma atenção particular do Estado ou de partidos e ONGs que servem a interesses ideológicos.

Repetindo Marx, longe de uma ação humanitária eficiente, a Esquerda muitas vezes se comporta com tacanha vilania, na medida em que não só não resolve os conflitos sociais, como se empenha em aprofundá-los para ter benefícios filosóficos que escondem interesses materiais.

Se vivo fosse, talvez Karl Marx escrevesse “O 18 Brumário de Luís Inácio Bonaparte”.

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 10/11/2018
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