A morte de um amigo

Todos nós morremos. Mas não apenas em um futuro longínquo. Morremos aos poucos. Morremos hoje, morremos amanhã e morremos ontem (oras, por que não?). Morremos também no passado, em um pretérito específico, em que deixamos morrer nossas velhas escolhas, alegrias momentâneas, erros e acertos e aqueles que não vivem mais entre nós. Aqui, não me refiro àqueles que já não mais suspiram por esse mundo. Mas aqueles que ainda respiram e que caminham em direção oposta de nossos sonhos e confidências.

Mas, afinal, o que seria "morrer"? Seria simplesmente um "deixar de existir"? Triste definição. Mas é exatamente assim que as pessoas "falecem" em nossas vidas: elas deixam de existir, restando-nos apenas a saudade daqueles dias melhores. A saudade é a consequência da falta.

Não pergunto "quem", mas "o que" matou o amigo? São vários os motivos: talvez, um "mal dito" se tornara "maldito". Às vezes, a mentira dói a ponto de matar. Há ainda os conspiradores e o tal do ciúmes e da inveja. Não tem jeito. A amizade se esfacela em silêncio e, quando finalmente percebemos, já é tarde demais. Já estamos longe, em uma distância que só a métrica sentimental poderia calcular. E o que ficou, além da saudade? Às vezes fica o ressentimento - e é esse o ressentimento que crema as amizades e joga suas cinzas nos ventos do esquecimento.

Não há velório, nem enterro, nem missa. Trata-se de um morto que ainda vive, mas não é mais um amigo, pois nunca mais pronunciaremos nossos nomes da mesma forma que antes. É triste...!

Às vezes, o amigo se vai. Ele parte sem aviso prévio, sem cerimônia, sem razão. Às vezes, as palavras se calam sem motivo algum e o fantasma do mal-entendido ocupa o espaço entre nós. E, assim, um amigo se vai. Valeu a pena?

Os arrependimentos também morrem, mas retornam como fantasmas que nos assombram. Tudo o que poderia ter sido, mas não foi. É uma pena...