ESCOLA ANTIGA, MODERNA ESCOLA

ESCOLA ANTIGA, MODERNA ESCOLA

"O que é escrito sem esforço

é geralmente lido sem prazer".

(citação ao pé da página de

apostila do Colégio SISTEMA)

Sou de um tempo em que fazer Redação implicava em preencher página e meia, no mínimo e, quanto maior no tamanho, mais conhecimento comprovava seu autor. Hoje, seria eu reprovado em qualquer Vestibular. Os tempos atuais não permitem rodeis, não aceitam circunlóquios, não admitem "enrolação", "desconversa", lirismo prolixo, em suma, "abobrinhas"! Num texto técnico, sob o título "Proposta 11" o "Cursinho" ou Convênio "bate o martelo": 1) apresentar o tema (já na primeira frase... ou oração, antigamente) e 2) formular a TESE, a "idéia central, seu ponto de vista definido acerca do tema proposto", isto com o uso do "tópico frasal", que sequer sei o que é.

O texto precisa ser dissertativo-argumentativo... "em norma culta escrita DA LÍNGUA PORTUGUESA". (O grifo é meu!) É o chamado "óbvio ululante"... por acaso esperam uma "dissertação" (?!) só em gírias ou Inglês ? Mas, voltemos aos anos 60, quando "esquentei" bancos escolares no interior de S. Catarina e do saudoso Paraná. Havia na época Redação, Composição e Descrição. Embora a memória senil me falhe, na primeira a mestra nos dava o tema e na última nos exibia belas estampas coloridas de cenas campestres, sobre a qual dissertávamos, detalhe por detalhe. Restou a Composição, da qual nada lembro... seria ela o "embrião" de futuras crônicas, biografias ou contos ?!

De volta ao Presente, analiso as tais "redações" do aluno Christian, todas bastante ruins... as notas vão de míseros 200 pontos até memoráveis 640, todavia há pouco para comemorar já que os "gênios" com EXCELENTE DOMÍNIO nos 5 tópicos -- definidos como "Competências Avaliadas" -- podem atingir a "estratosfera", digo, MIL pontos num só texto.

Curiosa forma de dar nota essa, distante dos 60, 70, 80 dos nossos Boletins, refeitos por volta de 1964/65 para números decimais severos... 6,2 ou 7,8 ou 8,3 ! Agora, prêmio ou "castigo" vem impresso na própria página da Redação, com 30 linhas, das quais se exige o preenchimento de pelo menos a metade. Nosso "modelo" só usa maiúsculas o tempo inteiro, separa bem as letras e também "espaceia" generosamente cada palavra. É esperto, termina frases no início da linha, "ganhando territórios" no papel em branco. Tanto fez que a professora, irritada, anotou: "letra grande demais, você precisa estudar bastante", mandando-o REFAZER 2 ou 3 das "redações malandras".

Para o leitor dessas mal traçadas linhas -- que não estuda há décadas -- faço uma síntese da "tabela de julgamento". No "cabeçalho" da página de Redação quadro com 5 competências a serem identificadas no texto do aluno, além de 5 notas válidas, que vão de 40 - domínio precário, a 80, 120 - domínio mediano, 160 e 200 - excelente domínio. O professor assinala a avaliação nos 5 itens, "puxa a soma" e "carimba" a obra com um "redundante" 640, por exemplo, desnecessário a meu ver, por constar da somatória no final do texto.

"Português é questão de interpretação", dizem, uma frase ela própria pouco concisa ! Os itens de 2 a 5 são todos bastante subjetivos, com longas definições, das quais faço resumo: 2) "compreender a proposta (...) e aplicar conceito das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema". Bonito isso mas impraticável, tendo-se apenas 30 míseras linhas. O jovem aluno, de 16, 17 anos, precisa "ser 1 notebook" para cumprir à risca o que exige o item 3: "selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista". Haja competência ! Os itens 4 e 5 são dúbios, dependem da INTERPRETAÇÃO do docente sobre o que afirma o aluno.

Vejamos: no 4) demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos (?!) necessários para a construção da argumentação. (Você entendeu ? Nem eu !) Já no 5 pede-se "elaborar a proposta de solução para o problema abordado... "mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural". Essa "locução" final é abrangente demais para poder ser "adaptada" num texto qualquer de 20 linhas e soa como VELADA CENSURA, como "indução", cerceamento da liberdade de expressão do escritor. Trocaram (?!) adiante por "respeitando os direitos humanos". Caso clássico de "pior a emenda do que o soneto" !

Num texto sobre ESTUDO E SUCESSO, sem título, Chrys recebeu 200 pontos, escrevendo corretamente palavras que erraria quando "refez" (?!) a redação, "esticando-a" com parágrafo de mais 3 linhas, de pouco sentido. Mesmo assim recebeu 360 pontos, rabiscando a lápis o trecho final. No meu tempo só isso desclassificaria todo o trabalho. Leia-se o "acréscimo" infeliz e tire cada um suas conclusões:

"O Estudo pode previnir (sic) várias doenças como o esquecimento. Pois ao estudar a pessoa estará sempre exercitando o célebro". (sic) Depois conclui que um país sem Educação é um país pobre (há discordâncias) e finda afirmando que se houvesse "mais Educação, Saúde e Esporte nas comunidades a criminalidade -- VINDA de lá ("interpretação" minha) -- diminuiria"! O rapaz "descobriu a pólvora"... eis aí a solução (será mesmo ?) para o maior dos males deste azarado país !

Viver de reciclagem nos traz belas surpresas, somadas a alguma preocupação. Este jovem "representa" MILHARES iguais frequentando caríssimos "Cursinhos" apenas para "passar no Vestibular". Entram nas Universidades muito mal preparados, com redação sofrível letra péssima e se "formam" aos trancos e barrancos, indo "dirigir" o País nos mais diversos cargos adiante.

Nas recentes eleições Belém assistiu "caso típico": funesto deputado "cheio de broncas" na Justiça por malversação de verbas públicas quase consegue colocar seu pimpolho como delegado federal (do IBAMA) aos 19, 20 anos... "salvou-nos" o fato de ter êle Boletim no curso de Direito "cheio de notas vermelhas" e número absurdo de FALTAS às aulas. Todos esses defeitos -- os de escrita e de caráter -- deveriam ser corrigidos na infância, pela família e pela escola. Coitados dos grafólogos de empresas, tendo que analisar "garranchos" onde R e N "são a mesma coisa" !

"NATO" AZEVEDO (em 28/nov. 2018)