ENCONTROS

Por que será que a gente insiste em sofrer? Por que insistimos na ideia de que as coisas só acontecem com a gente? Somos incapazes de perceber que todos, todos, sem exceção, têm seus problemas. O fato é que, quando a gente perde o rumo das coisas, quando sente tudo escorrendo entre os dedos, parece que ninguém mais se importa com isso. Sentimos, não sei por qual motivo, uma necessidade meio que mórbida de sofrer. Se tudo fosse fácil, se tudo corresse naturalmente, que sentido iríamos buscar para a vida?

Sexta-feira, final do dia, final da semana. Ao contrário do que sempre faço, não saí para fazer minha atividade física. Julguei que estava no lucro, pois não havia falhado nenhum dia. Na verdade, o motivo mais importante, era que eu receberia em casa duas amigas. Diferentes entre si, mas com um ponto em comum; ambas nutrem por mim um grande afeto que não sei se sou, de fato, merecedor.

Uma delas é sorrateira. Foi chegando na minha vida devagar, sem pressa. Naquele tempo, em que talvez eu fosse muito arrogante, achando que conhecia tudo sobre tudo, e nada sabia. Sorriso fácil, encantador. Participou de um curso que eu ministrei, lá atrás no tempo. Depois nos perdemos. O tempo, a pressa, o trabalho fazem com que não percebamos a presença do outro; ou talvez, nosso egoísmo ou essa mania de achar que somos muito, afastam-nos das pessoas que, de fato, são importantes.

O universo, que às vezes conspira a nosso favor, fez com que nos reencontrássemos. Isso aconteceu num momento muito ruim de minha vida. Havia passado por grandes decepções. Estava juntando meus pedaços e pagando pelas minhas escolhas – quase todas erradas. Ela me acolheu, me ouviu, me pôs muitas vezes no colo. Trabalhamos quase o ano todo juntos. Ela não me deixou esmorecer e sempre, dia por dia, me recebia com um sorriso, com afeto, com abraço… Mulher linda, por dentro, por fora.

A outra, ah! A outra. Como poderei descrevê-la. Que pessoa linda! Qualquer palavra que eu use não será suficiente para exprimir tanta dedicação, tanto amor, tanto afeto, tudo de graça… Conheço há mais de vinte anos. Trabalhamos juntos quando eu iniciava a minha carreira. Moça bonita, elegante. Com certeza tinha lá seus sofrimentos, mas nunca esmorecia. Sempre pronta para uma palavra amiga, um abraço, um “cheiro”. Disponível, sempre.

Na época em que convivemos mais de perto, sempre me dava carona, pois sabia que eu precisaria chegar logo em casa porque tinha de correr para outra cidade e continuar minha jornada de trabalho. Sempre dizia “se é carona, tem de ser até a porta de casa”. E era isso que fazia. E fazia por fazer, simplesmente. Essa é sua natureza – doação. Mulher linda, por dentro, por fora.

No pior momento de minha vida, esteve comigo todas as horas. Me levou aqui, ali, acolá, sem nunca reclamar. Buscou informações, me socorreu, me pegou no colo, me acarinhou. A vida é assim “afina e desafina”. Apesar de dias duros, difíceis para mim, ela não me deixou abater, fez tudo que era preciso por mim, para mim…

Nessa tarde de sexta-feira, tive as duas em minha casa. Eu, que tenho esse jeito casmurro, abri minha porta e as acolhi. Entraram na minha casa e no meu coração. Uma tarde, que se dizia perdida, uma tarde que eu havia dedicado para a “sofrência”, transformou-se num momento mágico. Muito sorriso largo, muito abraço, muito choro, colo, afeto, amor. Foi o melhor que me aconteceu. Aprendi que estar só não necessariamente significa o fim de tudo. Aprendi que tenho de juntar meus pedaços. Aprendi que é preciso viver cada dia, sem olhar para trás, sem projetar o amanhã, apenas o hoje.

Sejam bem-vindas. Entrem, meu coração é de vocês. Amor imenso! Fiquem comigo, sempre!

Peluro
Enviado por Peluro em 03/12/2018
Reeditado em 03/12/2018
Código do texto: T6518083
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