"S t a t u s"

Adoro ouvir o povo conversar. O povão. Sempre gostei, me sinto à vontade na companhia das pessoas mais simples. Tudo bem tenho meus amigos instruídos, alguns que fizeram carreira, vão bem de vida, vivem confortavelmente, incusive alguns possuem uma certa projeção. Mas sinceridade e como caldo de galinha, não faz mal a ninguém, prefiro a companhia do povo. Juro.

Aqui perno de onde moro( perto vírgula, fica a quase um qulômetro de distância, um deserto a atravessar para um véio que anda a psssos lentos e as pernas doendo paca), existe um fiteiro tipo loja de conveniência que vende de tudo. Lá tem um joguinho de dominó, e de vez em quando jogo, dizem que sou pixote, nunca ganhei. Mas jogo, sim, e perco, sempre. Mas o que mais gosto no local nem é tanto do jogo mas do papo.Noventa por cento futebol, a maoria aé Santa Cruz, do Sport só tem eu. Éproibido discutir politica e religião. Nao que se censure, mas falou ningupem dá um pio. Não preciso desenhar o motivo. No fiteiro tem um cafezinho quase quente. E a cerveja é gelada, além das latinhas de pitu e um torresminho, sempre alguém traz u caju... Vende-se repito tudo, menos revistas e jornais. Não tm saída. Psso horas nesse fiteiro. Mas ha dois personagens, os quais não jogam dominó, que são os meus preferidos, o vendedor de pirulitos, o filósofo do pedaço, bem informado, falante, crítico de tudo. E uma babá, esta arrasa. Parece que os dois se gostam, mas não assumem, vivem como o gato e o rato, discutindo. São essas discussões que adoro.

Ontem, quem chegou primeiro foi o filósofo, meteu o pau no Sport que caiu para a serie B e no Náutico que está votando para a antiga sede dos Aflitos, afirmou que vai voltar a elitização do bairro. Detesta o Náutico. ESport também, é tricolor doente. Na hora que o radinho do fiteiro tocou a música "Só quero vrau", que incia assim, "Essas malandras, assanhadinhas, que só quer vrau, só quer vrau só quer vrau...", a babão chegou empurrando o carinho do bebê. Vnha de camisa do Náutico, bóina de francesa, brincos grandões, colar de miçangas coloridas, saia curta, botas, anéis nos dedos e uma bolsa imitando as de marca, além de um lenço no pescoço, foi logo fazendo a coreografia da música. Um arraso. Mas o filósofo censurou: - Não fica bem, isso é quase imoral, tais de amostrando. Rla nem ligou. Olhou pra mim e pinicou o olho, eu mandei servir uma latinha de Coca, ela então agradeceu e me disse: - Véio, você sabe por que vesti a camisa do Náutico e estou usando essa bolsa francesa e essa boina e tou toda emperiquitada? Fiz o gest que não sabia, ela então esclareceu: - É porque andar bacana, elegante, dá istatutos" e eu me sinto impoderada. O filósofo foi logo ridicularizando: - Cala a boca Magda! Não é estatuto, sua ignorante, e status, nao é impoderada, é emponderada. A babá que se chama mesmo Magda, nem ligou, convicta que estava certa, então me perguntou se havia falado errado. Eu disse que nao, que estatuto é a tradução de status. E que na nossa Região quase ningupem diz empoderada, mas imponderada. Ela terminou a latinha e antes de sair disse ao filósofo: - Vai, capão suado, canta de galo pro véio que vive socado nos livros, vejo tododia ele passando com um livro debaixo do braço, acho até - riu - que ele não usa Texona mas livro no sovaco. E saiu empurrando o carrinho e cantando a música "Só quero vrau!". O filosofo ficou puto comigo, mas quando trminou o jogo eu disse a ele: - Confrssa, cabra véio, tu gosta de Magda, num gosta? Ele confessou: - Gosto e sei que ela gosta de mim, nesses dias a gente junta os trapos. Mas um dos jogadores, um véio ainda mais véio que eu disse: - Pra quê, dois lisos juntos ecorregam, não dá status. Pisei no barro, mas vou voltar. Adoro o local, me sinto bem, o povo é alegre e verdadeiro. Inté.