Pesadume

Concluiu a rotina de trabalho do dia, pegou a toalha e colocou sobre os ombros, tirou a calça e o sapato, respirou fundo como quem estava impaciente e seguiu até o banheiro. O sabonete acabou, voltou para o quarto, pegou outro, fez que ia voltar para o banheiro e parou no meio do caminho.

Ao parar percebia novamente a respiração um pouco mais alta que o normal e a mente exausta.

Seguiu e desta vez com o passo mais lento. Chegou no banheiro, colocou a toalha no prego, tirou o restante da roupa e se notou no espelho.

Reparou no peito apertado e se abraçou. Congitou chorar, mas logo se voltou para debaixo do chuveiro. Abriu a boca para cantar, mas pensou que o vizinho poderia ouvir, então calou-se.

Por alguns minutos deixou a água quente cair sobre o corpo parado e cansado.

Desejou ser arrebatado para um momento de êxtase.

Apreciou suas dezenas de teorias sobre a vida e aceitou sua condição.

Terminou seu banho demorado e voltou para o quarto, mal se enxugou e deitou sobre a cama.

Ficou um tempo ali, parada e pensando em várias maneiras para se sentir viva.

Listou novamente todas essas possíveis maneiras e respirou fundo, desta vez um pouco esperançosa.

Continuou nua e pegou no guarda-roupas, um lençol fino.

Deitou e se cobriu, ouvindo Dudley Taft e imaginando viagens e chuva.

Na tentativa um pouco que desesperada de não ser refém da sua mente, que está cansada e cansando o corpo todo.