Primeiro dia

Não tenho certeza mas eu acho que não gosto dos dias de domingo.

Geralmente as pessoas usam esse dia para se divertirem, viajarem, almoçarem fora de casa e encontrarem pessoas.

Os meus domingos são sozinhos. Na maioria das vezes, sou eu, um livro e música.

É o dia em que me permito ficar ociosa, nua e sem obrigações. É o dia do silêncio e das horas arrastadas.

Hoje choveu e o clima me deixou ficar o dia inteiro na cama, sem julgamento.

Fiquei horas em silêncio debruçada sobre minhas questões filosóficas. Pensei alto algumas vezes e falei sozinha.

Chorei ao notar alguns pensamentos maldosos que eu cultivava sobre mim. Debochei da esperança que eu fingia ter.

Rolei na cama. Tirei a roupa e fiquei debaixo do edredom. Peguei o celular e assisti videos sobre poesias.

Meio que entendiada, joguei o celular para os pés da cama. E tentei com muita insistência desenvolver as ideias que passavam depressa na minha cabeça.

Eu estava ali sem fazer nada, era um momento certo para escrever.

Mas mesmo com esforço nada saia.

Novamente me percebi sozinha e nua.

Despida da máscara que certamente colocarei de volta na segunda-feira. Ela é necessária para sobreviver nesse mundo que a sensibilidade não é vista com bons olhos.

Talvez eu não goste dos dias de domingo, porque eu me vejo. Sem máscara, enfeites ou palavras bonitas.

Me vejo inteira e profundamente. É o dia em que me revelo frágil e que aceito essa fragilidade de maneira que consigo ser forte na segunda-feira.

No domingo eu estou vulnerável, sem a proteção que coloco sobre mim, em todos os outros dias.

A solidão é respeitada no domingo e é sentida de maneira visceral.

O domingo é um dia sensivel, nebuloso, triste e sozinho. Talvez eu goste dos dias de domingos, ainda não sei.