Calça Lee- 1970

Me lembro das primeiras calças "americanas", como a chamávamos no início, quando apareceram no Brasil. Eram importadas dos EUA, da marca "Lee", e então passamos a chamá-la de "calça Lee", o nome "jeans " demorou a entrar, e mal sabíamos sobre o tecido "índigo blue ", e nem nos importávamos com esses detalhes. O que nos importava é que desbotavam e tinham bom caimento.

O único lugar para comprá-las era na Galeria Pagé, no Brás, um conjunto de lojas escuras lotadas de artigos importados, com várias lojas de costuras para ajustar as roupas, que vinham enormes, sem numerações confiáveis. Hoje a Galeria é um Shopping de importados, muito bonito e iluminado, e não mais aquele lugar de 1970, de onde a gente não via a hora de sair.

Pedíamos então que a ajustassem e lhe abrissem a boca , estilo marinheiro, " bocas de sino", e voltávamos para casa após vários ônibus lotados, mas feliz da vida.

Nunca me deram nota fiscal, aliás a ninguém, me fazendo desconfiar que poderiam ser produtos de contrabando ( não me importava), e por aqueles tempos não era difícil que fossem. A fiscalização era precária e corrupta, só atacavam os camelôs das ruas, com seguidos rapas, pois estes não tinham para os "tributos" .

Conseguir as coisas de que gostávamos era uma aventura, poucos discos chegavam , e haviam muitas canções versionadas, o que nem sempre agradava. Aos poucos íamos nos tornando mais seletivos, as rádios já tocavam as gravações originais, que eram muito melhores, e saíamos para caçar os bons discos, o mercado era muito fechado.

Não haviam computadores , celulares, carros ou telefones, a comunicação era direta, "papo reto", as vezes recebia-se um bilhetinho de alguém, e fora os bailinhos de garagem só tínhamos a turma do futebol. Éramos jovens e nos divertíamos com pouco, a vida era muito simples.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 18/12/2018
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