24 primaveras em um ano solitário

Acordar atrasado é rotina, assim como o toque doído do despertador e o lado vazio da cama. Encosto os pés no chão gelado do banheiro e o esquento com a água quente do chuveiro, me despertando para mais um dia. O dia dos meus 24 anos de idade.

A solidão é necessária. Todo mundo, um dia, precisa terminar um namoro, desfazer amizade importante, receber diversos “nãos” seguidos; chegar em casa, abrir a porta, e encontrar ali apenas o vazio e os ecos dos pensamentos. Todo mundo, precisa, um dia, olhar para ao lado e enxergar somente os próprios reflexos.

Há tempos não tenho ninguém exclusivo me esperando, apenas o ônibus para chegar ao trabalho. E, se eu bobear, ele passa. Passa e me deixa sozinho. De novo. Porém, no dia ensolarado de mais um aniversário, chego à conclusão de que solidão é importante.

S.O.L.I.D.Ã.O. A palavra em si é pesada. Grande. Complexa. E assusta. Mas, como grande parte de nossos medos, quando a enfrentamos e olhamos cara a cara, o monstro gigante ameniza-se para um gatinho adestrado. Um cão que ladra, mas não morde sempre. É no vácuo da solidão que encontramos espaço suficiente para conseguir respostas, fazer mais questionamentos, pensar, repensar, refletir e respirar.

Ao nos deparar com ela, temos escolhas. Eu optei por aceitá-la. Acolhe-la com suas dores, sabores, dessabores, inconstância e calmaria – e todas essas consequências se tornaram minhas. Cuidei e acalantei. Aos 24 anos, em dezembro, termino o ano com a alegria interna de conseguir me manter firme no período árduo e penoso da solidão. É possível!

Sinto-me no direito de ser prepotente e dizer que todo mundo deve sentir o gosto do que é ficar sozinho. É um exílio necessário, com léguas a percorrer e superações a serem conquistadas dia após dia. Continuo trilhando este caminho, com os pés no chão frio do banheiro. Caminho ainda sem a luz no fim do túnel e nem previsão de término. O percurso é o que nos forma e “lá” é apenas a resposta natural.

24 primaveras em um ano solitário, mas de aprendizagens fundamentais que só consegui porque estive comigo, ausente nos outros e presente em mim. Mergulhar em si mesmo é uma descoberta fascinante. Todo mundo, um dia, precisa terminar um namoro, desfazer amizade importante, receber diversos “nãos” seguidos; chegar em casa, abrir a porta, e encontrar ali apenas o vazio e os ecos dos pensamentos... Afinal, bagagem boa é bagagem pesada, que faz doer as costas e propicia momentos inesquecíveis e fundamentais para o crescimento pessoal.

Cheguei. 24 anos de bagagens nestas costas jovem, mas que já doem tanto. Ainda bem!