2018: o ano que não deveria..., mas será esquecido

O ano de 2018 já vai embora em poucos dias e seu sucessor se anuncia sem perspectivas animadoras, muito pelo contrário. Porém, é preciso que saibamos enxergar o lado bom em todas as coisas. Sim, há lado bom mesmo nesse lamaçal podre que ocorreu feito tsunami nos doze meses que findam agora.

Estávamos muito mal-acostumados ao conformismo, a olhar as coisas como se não fossem acontecer conosco e agora teremos de acordar dessa letargia alienante em que permitimos sermos deixados. Ou acordamos, ou seremos tragados sem ao menos haver luta. Mesmo lutando a vitória não é certa, no entanto, creio ser pior a derrota sem luta. É preciso tirarmos as vendas ideológicas, sejam elas quais forem, e enxergamos a realidade tal qual se apresenta: querem, e estão conseguindo, empurrar mais peso para os menos desfavorecidos.

Não posso ser nacionalista (ou patriota, como preferem alguns) e prestar continência (sinal de obediência, submissão) à bandeira e autoridades estrangeiras – justo as americanas e ser contra quem busca refúgio da fome e da miséria. Isso é xenofobia. Não posso ser nacionalista e querer vender (entregar de mão beijada) as riquezas pátrias, naturais ou econômicas: Amazônia, Embraer, pré-sal etc. Qual terá sido o preço pago?

Não posso ser apenas contra a corrupção alheia. Não posso pregar moral e bons costumes ilibados enquanto os que me cercam, de perto ou de longe, também são denunciados, incriminados. Não posso ser um paladino da Justiça (qual?) se para uns aplico a mão pesada, e manipulada, da Lei e para outros (meus “parças” ou “cúmplices”?) aceito um pedido descarado e insincero de desculpas como reparação dos erros cometidos.

Não posso querer colocar a economia em ordem propondo uma reforma da previdência e das leis de trabalho que usurpam, que expropriam maldosamente os direitos de quem mais precisa, obrigando-os a apertar os cintos onde já não há mais o que apertar e, do outro lado, ser conivente, leniente, permissivo, submisso aos grandes devedores dos cofres públicos. Por que tirar de quem tem pouco (ou nada) enquanto caloteiros trilionários chafurdam nababescamente na lama da corrupção e dos favores institucionais?

Não posso querer uma educação de qualidade se proponho mudanças que excluem disciplinas essenciais para a formação crítica do cidadão. Não posso querer uma educação de qualidade se proponho ensino à distância tão amplo, mesmo em regiões onde não há sequer luz elétrica, água potável e/ou comida quanto menos internet de boa qualidade. Não posso querer uma educação de qualidade se diminuo a quantidade de salas de aula, se trato professores e professoras com bombas e balas.

Não posso querer uma segurança pública que realmente funcione se apenas ofereço carta branca para que a polícia mate. É preciso a criação de leis mais duras e justas e que realmente elas sejam cumpridas. É preciso oferecer melhores condições de salário e de trabalho. É preciso investir mais e melhor no social para que os jovens, principalmente, não sejam atraídos pelo fascinante e perigoso mundo do crime e das drogas de todos os tipos. E para que isso seja possível, não se pode esfarelar a educação pública para entregá-la de mão beijada aos famintos e famigerados setores privados. Aliás, não só a Educação Pública está sendo posta à venda. O Estado quer ser apenas um mero arrecadador de impostos, um senhor feudal a serviço de um rei (ou vários) narcisista e belicista.

Não posso querer tratar uma nação com equidade e justiça se coloco entre meus ministros ninguém de duas regiões que, geograficamente, constituem mais de 50% da extensão territorial brasileira e quase 50% da população do país. Não posso querer a geração de emprego e riqueza (para quem?) se proponho importar tecnologia (por questões ideológicas) quando há, aqui, tecnologia mais barata e tão eficiente quanto ou mais.

Isso tudo me cheira putrefatamente a hipocrisia e egoísmo da mais baixa qualidade e da mais alta covardia. Cada vez mais fica translúcido que a intenção não era acabar com a corrupção, mas sim acabar com a corrupção do outro para que apenas um lado usufrua das benesses de um sistema sujo que favorece os já privilegiados. E há tantas outras coisas (nepotismo, por exemplo) que dá asco, ânsia, raiva de ficar comentando.

Gostaria, entretanto, de deixar para reflexão uma breve síntese de três obras da literatura universal que convergem, a meu ver, para nosso momento atual. Quem conseguir despir-se das máscaras ideológicas ou livrar-se das cordas do marionetista talvez consiga entender algo.

A revolução dos bichos, George Orwell: “A história inicia-se com uma reunião entre os animais da Granja Solar, que era de propriedade do Sr. Jones. Nessa reunião, o major, um porco velho e muito respeitado na fazenda, conta o sonho que teve em que os animais eram livres do domínio do homem [...]. O porco também acrescentou que um dia este sonho se tornaria realidade e os animais deveriam dedicar sua vida a esta revolução. Três dias depois o Major morreu, entretanto, sua ideologia foi sistematizada e chamada de “animalismo” por dois porcos: Bola-de-Neve e Napoleão. Pouco depois a revolução dos bichos estourou, eles tomaram a Granja do Solar e esta se passou a chamar ‘Granja dos Bichos’. A partir daí, o livro passa a retratar como os bichos se organizaram num sistema parecido com o socialismo, mas que acaba virando um totalitarismo. [...]” (por Vilto Reis, in https://homoliteratus.com/resenha-a-revolucao-dos-bichos-george-orwell/).

1984, George Orwell: após uma guerra de escala global, todas as nações do mundo foram destruídas e o que sobrou foi dividido em três “grandes estados transcontinentais totalitários”. A história se passa em Oceânia (Londres, na realidade) e “O protagonista é Winston Smith. Funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos quatro ministérios que governam Oceânia, sua função é falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico[...]. A opressão era física e mental. A Polícia das Ideias atuava como uma ferrenha patrulha do pensamento. Relações amorosas estavam entre as muitas proibições. Nesse cenário de submissão onde não há mais leis, mas sim inúmeras regras determinadas pelo Partido, ninguém nunca viu o Grande Irmão em pessoa. Uma sacada genial do autor: o tirano mais amedrontador é também aquele mais abstrato. Winston detesta o sistema, porém evita desafiá-lo além das páginas de seu diário. Isso muda quando se apaixona por Júlia, funcionária do Departamento de Ficção. O sentimento transgressor o faz acreditar que uma rebelião é possível. Mas combater o regime não é nada fácil. [...]” (por Álvaro Oppermann, in https://guiadoestudante. abril.com.br/estudo/saiba-mais-sobre-o-livro-1984-de-george-orwell/).

Admirável mundo novo, Aldous Huxley: “Sua história se passa no século VII d.F. (depois de Ford – Henry Ford, criador da produção em série que revolucionou as indústrias no século XX), em uma sociedade futura onde os indivíduos são condicionados desde a concepção, de forma genética, e de forma biológica (por meio de substâncias misturadas aos alimentos e bebidas) e psicológica a se conformar com as regras sociais vigentes em um estado autoritário, porém de forma pacífica. [...] No ‘Admirável Mundo Novo’ a sociedade é dividida em castas e os bebês são produzidos em laboratórios onde têm todo seu desenvolvimento embrionário controlado por cientistas[...]” que, “ainda nesta fase [...] determinam a que casta pertencerá o novo indivíduo e, conforme a casta, determinam se ele receberá alimentos bons ou não. [...] não existe a instituição da família e enquanto dormiam as mentes das pessoas eram bombardeadas com ‘propagandas’ ideológicas.” (por Caroline Faria, in https://www.infoescola.com/livros/admiravel-mundo-novo/).

São três distopias que nos servem de sinal de alerta para a nossa realidade presente, apesar de terem sido publicadas entre as décadas de 1930 e 1940 (sinal dos tempos?). Quem estiver minimamente desperto do transe alienante em que a mídia e o sistema atual nos colocam, leiam os artigos na íntegra, melhor ainda, leiam as obras na íntegra e tirem suas próprias conclusões. No mínimo é possível fazer analogias sensatas, não sensacionalistas, com o que vivemos hoje. Todavia, reforço, cada que deve tirar as próprias conclusões.

A esperança (sempre devemos plantá-la, apesar de tudo) é que tudo sirva para nos acordar, nos chacoalhar e nos fazer perceber que a solução não está em nenhum tipo de extremismo, muito menos o religioso. Aliás, por falar em religião, se Cristo voltasse hoje, seria morto novamente ou “morreria” de raiva ao ver as crueldades, as insanidades que fazem em nome Dele.

Cícero – 27-12-2018

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 27/12/2018
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