Stradivarius

Sentou-se mais uma vez, no início da noite, em sua cadeira no canto da sala. Ficou alguns instantes de silêncio na penumbra...
Só ouvia a própria respiração. Fazia parte do seu velho ritual para adentrar à um momento de magia que fazia transcendê-la à outros mundos.
Então, tirou do estojo o seu amigo. Um luxo de que muito se orgulhava, afinal coube a ela preservar a jóia da família.
Desde pequena ouvia o avô, por horas, sentada à mesa com as mãos no queixo. Os olhos dela brilhavam para a alegria do ancião que via na garotinha um potencial musical a ser lapidado. Por isso, desde cedo ele a incentivara, apresentando-lhe tão sublime instrumento. Nos seus últimos dias, recomendara à esposa o destino de sua "mariposa de madeira". E assim foi feito.
Ficou por um tempo manuseando as cravelhas e então deslizou o arco pelas cordas verificando a afinação. Em instantes se ouvia a Mazurka em Lá Maior de Chopin inundar os recantos da sala, seguindo um Tchaikovsky, Canção Sem Palavras para o meu deleite. Mas quando ouvi de Paganini, Sonata em Lá Maior eu tive a certeza que seguiria os passos de minha mãe e aceitaria o convite para as aulas de violino e, quem sabe um dia, poderia também ter a honra de guardar a preciosidade que fora de meu bisavô: O Stradivarius.

 
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 30/12/2018
Reeditado em 13/02/2019
Código do texto: T6538849
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