Registros

Já é fim de ano, mais um mais uma vez. O meu relógio marca essas horas fartas e fatídicas que aguam os meus dias. E eu, cá em meu cotidiano, sigo dia a dia como quem faz um milagre por esperar um.

Sei que é fim de ano porque os calendários das paredes registram as sextas-feiras que chegam, as cestas básicas que se acabam, as sestas que não descanso em dia nenhum da semana. Ontem eu era noite, hoje sou dia e amanhã, suor.

Lá se foi mais uma estação; chega o verão que registra a si próprio em nós, em nossas peles, em nossas beiras de areia, de água, se esperança... Muitas pessoas sentem o verão marcado pela dor das chuvas que levam as casas, levam as compras, levam os filhos.

As águas, que não as de março, registram-se em terra depois de se anunciarem de qualquer jeito. Eu registro em memória, tudo que é bom e o que não é também. Fica tudo para sempre comigo, junto daquilo que não acaba. Porque o infinito existe, mesmo que se encerre logo ali no dia 31 de dezembro; logo ali na marmita requentada; logo em mim, que me faço em mim, em fumaça e licor. E que continuo viva, em carne e memória, junto de tudo que registro; junto de tudo que é infinito enquanto eu me lembrar.

Crônicas de um Ignorante
Enviado por Crônicas de um Ignorante em 13/01/2019
Código do texto: T6550027
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