#1 Confissões de uma professora amada: As cartas vindas do coração

Elas chegam no começo da aula, ou apenas no final, mas é bem comum serem entregas pelas pequeninas mãos antes da aula começar, pois a ansiedade é tão grande, tão maior que os pequenos alunos que já me presentearam com cartas amorosas, engraçadas e todas inesquecíveis. Recebi cartas e cartões, desenhos e dobraduras. Recebi pequenos pedaços de papel cortados das agendas, cadernos e até canetas sem tintas. Ganhei figurinhas, ganhei carimbinho, ganhei de tudo um pouco. Ganhei cartas e desenhos desejando feliz dia do índio, do professor, feliz páscoa, feliz natal e tantas outras com dizeres de amor, não precisando nunca serem entregues em datas especiais, pois meus alunos me ensinaram que o carinho e a gratidão a gente demonstra sempre que quiser.

Meus alunos – todos que já me escreveram algo de amor em pedaços de papel amassados, limpos ou um pouco sujos – me mostraram que a alegria em fazer o outro feliz pode e vem através de um desenho, de um recado de amor que agradece a gente por ser bonita, por ser boazinha, por ser incrível. Os nomes assinados no final fazem a gente querer duas coisas: uma delas é que a gente nunca perca a chance de retribuir o carinho para aquele pequeno coração de aluno que nos deu um pouco de seu amor, de seu tempo, de seu capricho através do bilhete entregue no começo da aula. A segunda coisa é querer desejar que aquele segundo, aquele pequeno milésimo de segundo que antecede o começo da sua aula, nunca acabe, que fique apenas registrado como o suspiro do coração de professora que acaba de receber um pouco de amor.

O que nunca vou me esquecer também são os olhos pequeninos que me fitam enquanto eu abro os envelopes, desamasso desenhos, descubro como funcionam as dobraduras entregues para mim. Os pequenos olhos que fixam na gente e não querem outra resposta senão “Eu amei! Que desenho lindo, muito obrigada”. O abraço do aluno vem em seguida e nesse abraço todo professor pode jurar que gostaria que demorasse mais segundos, mais minutos do que dura normalmente. O afeto, o carinho de aluno, o ser amada eu recebi não pelo correio, ou encomendas compradas pela internet, recebi em papeis que hoje estão guardados em um baú. Papeis que vieram de lares que não conheço, de dificuldades que não conhecerei nunca, mas que chegaram – de alguma forma ou outra- através das pequeninas mãos que escreveram, desenharam e me entregaram. Mãos suadas, com medo de não agradar por completo o coração da professora.

Recebi também outros tipos de cartas, mas que não vieram de forma tradicional. Recebi flores, chocolates, vasos de flores, ganhei clips, tamancos holandeses e até convites de aniversário, mas esses se perderam para o tempo, não estão no meu baú, mas com certeza estão na minha memória, confirmando a certeza que repenso toda vez que recebo um novo recado, mensagem ou carta: sou uma professora amada.

Se meus alunos pudessem receber um recado meu, uma carta, um desenho, uma flor, seja o que for, só apenas para eles saberem que o que fizeram por mim para sempre ficará gravado no coração, então, só então, eles sentiriam o amor que sinto quando cada novo papel com algum desenho novo chega na minha mão e o sorriso do remetente está escondido logo atrás e cujos olhos apenas confirmam que o carinho que sentem transborda e a cartinha ou recado é apenas um pouquinho do que sentem e um pouquinho sobre como demonstram isso para mim.

Palavras de Verona
Enviado por Palavras de Verona em 13/01/2019
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